domingo, 28 de junho de 2020

PEDRAS PORTUGUESAS...

... OU PEDRAS À PORTUGUESA?

PEDRA A PORTUGUESA

O que se coloca nos passeios em Salvador é a “antiga pedra a portuguesa que se caracteriza pela forma irregular de aplicação das pedras” enquanto em Portugal se aplica “a calçada portuguesa clássica, que tem uma aplicação em diagonal, segundo um alinhamento de 45 graus com os muros ou lancis”. 

PEDRA PORTUGUESA

Só pela precisão discriminativa da técnica podemos entender quanto lá se leva este trabalho a sério.
Em 1986 a Câmara Municipal de Lisboa criou uma Escola de Calceteiros a fim de “renovar o efetivo de calceteiros municipais e divulgar a Arte de Calcetamento”. Que tal nosso dinâmico prefeito, hoje tão envolvido com a criação de novos museus, criar em Salvador uma escola idêntica? Não seria a melhor forma de confirmar a Primeira Capital do Brasil como “Cidade-Museu”? 

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NÃO É MELHOR QUE PLACAS DE CONCRETO?

Amanhã algum órgão municipal ou estadual apresentará mais um projeto para as calçadas do centro antigo. A lógica mais elementar seria começar por retirar todo e qualquer poste, ampliar os passeios, para, finalmente, colocar pedras portuguesas. Ou será que teremos de abdicar, até aqui, de nossa identidade histórica? 
O primeiro alerta foi dado quando o prefeito João Henrique, com sua costumeira Estética da Mediocridade, resolveu melhorar (sic) o visual do Porto da Barra. Cortou mais algumas árvores – como nove de cada dez prefeitos – levantou o passeio e retirou o calçamento original para colocar placas de concreto. 

Alertado, fui verificar a agressão que tinha o aval “daquela” arquiteta do IPHAN, e entrei com processo no Ministério Público Estadual. Juca Ferreira, então ministro da Cultura (que falta nos faz!) se posicionou contra o absurdo. Mas o mal já era consumido. 

O entorno dos dois fortes e da bela enseada ficou prejudicado.
Já lá vão uns quinze anos que as administrações municipais declararam guerra à pedra portuguesa sob o pretexto de que são perigosas para os pedestres. Tendo vivido 15 anos em Lisboa, discordo em absoluto desta crítica. Nenhum de meus familiares, amigos ou amigas nunca se machucou nas calçadas de Portugal. 

RUA DA SAUDADE - CASCAIS

Volto às terras lusitanas com certa frequência e sempre me encanto com a elegância e criatividade do calçamento ao andar pelas ruas de Lisboa, Évora ou Cascais, sempre com manutenção cuidadosa e permanente. Em Salvador e arredores não existe nenhum calceteiro que domine realmente esta arte ou, se existir, nunca é contratado pela prefeitura.

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RUA GENERAL GLICÉRIO - RIO DE JANEIRO


Os legados culturais não se limitam a uma mesma língua. Não se castra uma herança que nos veio de Roma passando pelos mouros.

A pedra portuguesa une Macau, Porto, Luanda, Rio de Janeiro, Maputo, Sintra, Praia e Salvador não somente pela força de uma mesma tradição histórica, mas também numa mesma preocupação de pertencimento.

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