quarta-feira, 15 de agosto de 2018

EMBLEMA DO REI ODUDUÁ


 "Veja um trecho de um texto que escrevi com minha amiga Daniela Moreau sobre os cartões postais de Edmond Fortier nos quais aparece uma figura paramentada com vestimenta parecida. 

Trata-se de uma coroa iorubá (adé), objeto investido com valor espiritual, político, estético. Como emblema do rei Oduduá (Odùduwà), o ancestral primigênio dos reinos iorubás, o adé “encarna a instituição da força ancestral do rei”. Uma franja de fios de missangas cobre, como uma cortina, o rosto do portador, pois acredita-se que o rei (ba), enquanto pessoa sacralizada, não pode ser exposto à vista do povo. Os adélà, ou grandes coroas, têm a parte superior cônica, decorada com motivos geométricos e alegóricos, amiúde na forma de pássaros, confeccionados com missangas. O historiador Robert F. Thompson escreve que “ocultar [o rosto] diminui a individualidade do portador, de modo que ele vira também uma entidade genérica”. Nesse sentido, a máscara ou adé“combina a dupla presença do rei e do ancestral, este mundo e o outro”, o presente e o passado, constituindo, assim, a encarnação da dinastia.[1] No caso de Sakété, é provável que a incumbência de carregar o adé fosse reservada, não ao rei, mas a algum “duplo”, iniciado e preparado para assumir essa função político-religiosa."
Luis Nicolau Pares

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