quarta-feira, 30 de outubro de 2019

ESTA TERRA É DOS ÍNDIOS!

Antropóloga portuguesa lidera luta contra resort da Vila Galé em terra indígena no Brasil



Investigadora do Instituto de Ciências Sociais foi financiada pelo Estado brasileiro com apoio do Ministério de Negócios estrangeiros de Portugal para coordenar a demarcação das terras indígenas que o grupo Vila Galé quer agora ocupar por um resort, no nordeste brasileiro

Durante 15 anos, a antropóloga Susana Viegas estudou uma das comunidades indígenas mais antigas do Brasil, os tupinambás de Olivença. Deste período, seis anos foram dedicados, para convite do Governo brasileiro, a coordenar o processo de demarcação das terras indígenas. A investigadora disse ao Expresso estar "chocada" com a decisão de um grupo português, Vila Galé, de construir um resort na zona e decidiu reagir.
No domingo, a investigadora foi surpreendida por um pedido de ajuda de uma representante indígena, que solicitava apoio para se deslocar a Brasília para denunciar a presença de um helicóptero das Forças Armadas brasileiras na zona de Olivença, no estado da Bahia, e o início dos despejos dos moradores para se iniciarem os trabalhos de construção do projeto português. Preocupada, Susana Viegas decidiu procurar o presidente do grupo Vila Galé.
"Fui ao site, procurei o endereço de email e enviei uma mensagem, apresentando-me, esclarecendo que tinha sido eu a cordenar o processo de demarcação e pedindo para conversar com o presidente do grupo", explica Viegas. E telefonou para falar diretamente com Jorge Rebelo de Almeida. À tarde, como ainda não tivesse tido qualquer resposta, a antropóloga voltou a telefonar e a chamada foi passada. "Ele ainda não tinha lido o meu email e voltei a explicar-lhe que tinha sido eu a coordenar o processo de demarcação das terras indígenas e que tinha, inclusive, sido financiada pela FUNAI, UNESCO e que tive apoio da Universidade de Coimbra e de Lisboa e do Ministério dos Negócios Estrangeiros, dinheiro do Estado português, para realizar este trabalho, através do Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento".A investigadora classifica como de "horrível" a reação de Rebelo de Almeida. "Eu percebi que ele tinha conhecimento de todos os detalhes, menos de que tinha sido uma portuguesa a participar no processo de demarcação. Mas tinha um discurso negacionista, recusando-se a aceitar que haja índíos naquela zona", explica Susana Viegas. Em causa está um manguezal ameaçado de extinção, de onde os cerca de cinco a sete mil indígenas que ali vivem retiram os crustáceos de que se alimentam. "As pessoas quando pensam em índios, visualizam uma floresta, mas as comunidades da costa, habitam o litoral, ocupado por mata atlântica", explica a investigadora.



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