segunda-feira, 21 de outubro de 2019

O ALFINETEIRO DE PARIS

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Aconteceu no inverno de 1829 e foi então o assunto mais comentado no mundo inteiro. Durante meses, um homem adquiriu o sádico prazer de alfinetar jovens que transitavam pela ruas da capital francesa. Com um estilete, furador de cartões ou bengala armada com uma agulha na ponta, atacava principalmente mulheres e os respectivos “traseiros”. Surgiram dezenas de vítimas por toda a cidade e a polícia não conseguia achar o meliante. Era o tema principal em todas as conversas dos parisienses.
O negócio foi o seguinte:
Entre julho e dezembro de 1829, quase 400 vítimas, na maioria mulheres, declararam ter sido violentamente alfinetadas por um indivíduo durante caminhadas pelas ruas de Paris. Essas “picadas” aconteciam quase sempre nos arredores do Palais-Royal, onde todos iam para se fazerem notar ou divertir, e perto da Pont-Neuf ou do Louvre, lugares igualmente badalados da elegante cidade.
Se as feridas na maioria das vezes eram superficiais - nada a ver com cortes provocados por espadas ou facas - elas não deixavam de traumatizar as vítimas. Todos tornavam-se ainda mais preocupados porque não compreendiam a razão dos ataques.

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Seria uma questão de apenas atormentar as pessoas? As agulhas estariam envenenadas? Haveria conotação sexual nesses gestos? Brotavam como cogumelos perguntas e mais perguntas sobre a questão mas as respostas tardavam a aparecer. Após quatro meses de ataques, ninguém sabia nada sobre o então chamado “picador de nádegas”.
Em dezembro de 1819, o chefe de polícia de Paris tomou a importante decisão de publicar os fatos no conhecido jornal “Le Moniteur universel” para prevenir a população e encontrar o culpado.

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A ideia, porém, não obteve o efeito esperado... Longe de conseguir a prisão do pervertido, multiplicaram-se os temores da população e o fenômeno adquiriu proporções inimagináveis. O número de agressões cresceu de modo impressionante no mês de dezembro e a imprensa cobria com estardalhaço cada caso acontecido.
Três mulheres feridas na saída do Opéra”, “Menina de seis anos alfinetada na frente da loja do pai”, “Moça atacada no Jardin des Tuileries”... eram as manchetes publicadas com letras garrafais.
Todos os dias, os jornais da capital e do país noticiavam e comentavam com sensacionalismo cada agressão.
Cresciam os rumores e pipocavam os oportunistas. Dizia-se que não se tratava apenas de um único homem mas de um grupo organizado e que algumas vítimas estavam fatalmente envenenadas pelas picadas.
Uma verdadeira psicose se instalou na cidade e as mulheres, em pânico, não ousavam sequer pôr o nariz na porta da rua.
Evidentemente surgiram os oportunistas de plantão. Um farmacêutico do Marais anunciava um milagroso bálsamo “anti-alfinetada”, um armeiro criou um “preservativo contra as alfinetadas” que se apresentava sob a forma de uma calcinha de metal leve para “proteger nádegas”!

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Até que em janeiro de 1830, encontrou-se um culpado. A delegacia de Paris, dirigida pelo famoso Vidocq*, prendeu e fez condenar um jovem alfaiate de 35 anos: Auguste-Marie Bizeul. Era, segundo alguns, especialista em fabricar alfinetes e foi reconhecido por três vítimas. O processo de Bizeul foi minuciosamente acompanhado por toda imprensa. Foi um dos primeiros casos jurídicos a transparecer por completo na esfera mediática. O homem foi tachado de “pervertido e depravado” pelo advogado real. Foi enfim condenado a uma multa de 500 francos e a cinco anos de prisão.
No entanto, ainda hoje, permanece a dúvida se o culpado encontrado não teria sido um tanto “ideal” além da conta. Diz-se que Vidocq, conhecido por práticas pouco ortodoxas, não teria hesitado em subornar algumas testemunhas para encontrar um culpado e pôr fim aos temores dos parisienses... De qualquer forma, as agressões não desapareceram após a prisão de Bizeul e continuaram por mais alguns anos.
*Vidocq foi um delinquente condenado a trabalhos forçados (“aux Bagnes”) que se tornou Delegado de Polícia e depois aventureiro e detetive. Ainda hoje tem papel importante no imaginário popular francês graças a romances e, desde algumas décadas, à televisão e ao cinema.

Um comentário:

  1. Super legal a história, mas há uma incongruência de datas, pois se tudo aconteceu em 1829, como o chefe de polícia publicou sobre os ataques em 1819???

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