terça-feira, 15 de outubro de 2019

HAVIA EM MINHA CASA...

"Havia em minha casa uma criada, chamada Laura, de quem eu gostava muito. Era uma mulher jovem, loira, muito bonita. A Laura ensinou-me a "Nau Catrineta" porque havia um primo meu mais velho a quem tinham feito aprender um poema para dizer no Natal e ela não quis que eu ficasse atrás… Fui um fenómeno, a recitar a "Nau Catrineta", toda. Mas há mais encontros, encontros fundamentais com a poesia: a recitação da "Magnífica", nas noites de trovoada, por exemplo. Quando éramos um pouco mais velhos, tínhamos uma governanta que nessas noites queimava alecrim, acendia uma vela e rezava. Era um ambiente misto de religião e magia… E de certa forma nessas noites de temporal nasceram muitas coisas. Inclusivamente, uma certa preocupação social e humana ou a minha primeira consciência da dureza da vida dos outros, porque essa governanta dizia: «Agora andam os pescadores no mar, vamos rezar para que eles cheguem a terra» 

Sophia de Mello Breyner Andresen


  Sophia de Mello Breyner Andresen GO SE • GCSE • GCIH (Porto6 de novembro de 1919 — Lisboa2 de Julho de 2004) foi uma das mais importantes poetisas portuguesas do século XX
Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999. 
O seu corpo está no Panteão Nacional desde 2014 e tem uma biblioteca com o seu nome em Loulé.

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