sábado, 15 de fevereiro de 2020

O EXÉRCITO MATOU MEU FILHO


‘O Exército matou meu filho’: Mãe desabafa após sargento morrer em quartel



O relato de uma mãe abatida está viralizando e revoltando as pessoas nas redes sociais. Seu filho, Eduardo Barbosa Torres, de 23 anos, morreu no quartel do Exército. Ela conta que o jovem foi torturado e humilhado ao longo da carreira militar.
“O Exército sempre foi o sonho dele, assistia essas propagandas de convocações para o serviço militar com os olhinhos arregalados. Eu só quero justiça pelo meu filho, para que nenhuma mãe passe pelo que eu passei. Eles [o Exército] torturaram e mataram o Dudu”, disse Conceição.
A família é de Juiz de Fora (MG), Eduardo estudou muito e conseguiu passar em uma seleção. O primeiro trauma ocorreu quando seu amigo faleceu após uma maratona de exercícios extremos.
“O amigo dele não aguentou, caiu muito cansado e meu filho parou para ajudá-lo. O superior dele já ficou com raiva, disse que deveria ter deixado ele lá. Os outros militares começaram a ridicularizar o Dudu, falaram que ele era um fraco, viado, bicha. E esse amigo morreu três dias depois, por conta do esforço extremo”, esse caso foi no Rio de Janeiro, conta a mãe.
Depois de machucar a perna, ele teve de abandonar as funções por um tempo: “Achei ele meio triste, diferente, mas achei que era por conta do desligamento mesmo. Depois disso, ele precisou se apresentar novamente ao Exército, e foi enviado para Joinville (SC). Ele foi servir na Infantaria e lá que as coisas pioraram muito”.


“O quadro de depressão foi aumentando. Ninguém falava com ele, não tratavam ele bem. Um dia ele me ligou e disse: ‘Mãe, eu estou ficando deprimido, estou pensando cada coisa ruim’. Meu coração apertou na hora, perguntei se ele queria que eu fosse pra lá, mas ele achou melhor não. Disse para ele ir ao médico do quartel, explicar o que estava sentindo”.
Ela falou com o rapaz para ir ao médico, no entanto o assunto foi divulgado entre os militares: “Ele me disse que o médico ouviu tudo, foi bem solícito e orientou sobre o que fazer. Mas, no dia seguinte, o quartel inteiro sabia do que ele tinha conversado com o médico. Falaram que ele era gay, que estava sofrendo por um rapaz, que ele tinha um caso. As coisas só pioravam”.
Conseguiram um psiquiatra particular que o diagnosticou com estresse pós-traumático pediu o afastamento de Eduardo e a retirada de sua arma, entretanto só a segunda solicitação foi atendida. Ele passou a sofrer ainda mais humilhações por estar sem arma.


Na véspera do último Ano Novo, o jovem teve um surto: “Ele saiu correndo pelas ruas de Juiz de Fora, se jogando nas frentes dos carros. A polícia interveio, prendeu meu filho e bateu muito nele. Quando chegamos na delegacia, já tinha um coronel do Exército lá. Meu filho estava batendo a cabeça na parede, muito descontrolado. Eu peguei e deitei ele no meu colo, para se acalmar um pouco”.
“Falaram que quando chegasse no quartel, iriam ‘moer’ ele"
Os militares o levaram à força até o Rio: “Ele ficou preso, algemado em uma cama, durante quatro dias. Só tiravam a algema para ele tomar banho e fazer suas necessidades. Ele acabou perdendo a sensibilidade de uma das mãos”.
Eduardo ficou preso no quartel, sem medicação e sem nenhum suporte, até que no último dia 30, informaram para a família que ele havia cometido suicídio.
“Não tinha nada dentro daquele quarto que ele pudesse usar para se matar. Só entregaram o corpo quase três dias depois. Meu filho estava todo maquiado, conseguimos ver um corte na sobrancelha. Eles mataram meu filho dentro do exército, eu afirmo isso. A ditadura existe ainda dentro dos quartéis”.
Agora a mãe e a família querem justiça, e temem pelas próprias vidas.

2 comentários:



  1. Eu espero ardentemente que a justiça seja feita. Muito triste, impossível não se emocionar!!!!

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  2. O poeta Ruy Espinheira escreveu: "Um absurdo. Um absurdo já várias vezes repetido, aliás, como vimos em outras ocasiões. Ora, se os militares tratam desta maneira seus próprios companheiros, o que reservam para os civis? Bem, já tivemos experiências a respeito e de lembranças nada agradáveis... Um absurdo, mais um absurdo que permanecerá impune. Pobre Brasil."

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