quarta-feira, 12 de agosto de 2020

UM NEGRO NO POLO NORTE





    Quem foi o explorador negro que chegou 1º ao Polo Norte

    Matthew Henson, que auxiliava um explorador branco, só viria a ser reconhecido décadas depois do feito de 1909
    Homem olha para o lado vestido com roupa de pele de animal
    Em 1906, Robert Peary, americano, branco, recebeu a primeira medalha Hubbard da história. Tratava-se de um reconhecimento da National Geographic Society por distinção em exploração, descoberta e pesquisa. Ele era considerado o homem que havia ido mais longe rumo ao Polo Norte, mas ainda não havia chegado lá de fato.                                                                                 Três anos depois, o explorador organizou uma nova expedição. Nos trechos finais, contava com a ajuda de outros cinco homens. Um deles era Matthew Henson, também americano, negro, contratado como ajudante. Os outros quatro eram Inuites, etnia indígena esquimó: Ootah, Egigingwah, Seegloo e Ooqueah.                       No dia 6 de abril de 1909, eles finalmente chegaram naquilo que achavam ser o Polo Norte. Não coube ao explorador Peary, porém, o feito. A poucos quilômetros do objetivo, ele estava com dificuldades para deixar o acampamento, em razão dos dedos congelados e da exaustão. Por isso, ordenou que Henson fosse na frente com os nativos. O ajudante chegou primeiro, seguido dos esquimós.                                               Desde então, a expedição comandada por Peary é considerada a primeira a chegar no extremo norte do planeta. Os participantes que ajudaram o explorador, porém, viriam a ser reconhecidos apenas em 1944 pelo feito, ao receber medalhas oficiais na Casa Branca. A condecoração da National Geographic Society para Henson viria apenas em 2000.
    Quem é Matthew Henson                                                                                                                                         Matthew Henson nasceu em Maryland, em 1866, um ano depois do fim da Guerra Civil Americana, que concedeu liberdade aos negros escravizados dos EUA. A família dele, no entanto, já era livre antes da abolição, mas teve que fugir do estado depois de serem perseguidos por supremacistas brancos da Klu Klux Klan.                                     Com 13 anos, ele embarcou em um navio como ajudante e viajou o mundo. Foi aqui também que Henson aprendeu a ler e escrever. Aos 21, trabalhou como balconista em uma loja em Washington, DC, onde certo dia conheceu Peary, que o contratou como criado particular.              Acompanhou o explorador em uma dúzia de viagens e por duas décadas se aprimorou como caçador, artesão, navegador e domador de cães puxadores de trenó. Nesse tempo, aprendeu fluentemente o inuit, a língua dos indígenas esquimós.
    Gelo e céu. Cruzando na diagonal do quadro, cinco trenós puxados por cachorros. Em cada um deles, um homem os conduz
    Depois de conquistar o Polo Norte, Peary se aposentou, e Henson foi trabalhar outros 30 anos como balconista em um prédio do governo em Nova York. Durante esse tempo, publicou em 1912 o livro de memórias “A negro explorer at the North Pole” (algo como, “Um explorador negro no Polo Norte”).                                                                                                                               “Desde o começo da história, onde quer que o homem branco tenha criado algo, ele era acompanhado de homens negros. Da construção das pirâmides ao martírio de Jesus; da descoberta do Novo Mundo a descoberta do Polo Norte, os negros sempre foram companheiros fiéis e constantes dos caucasianos. Senti tudo que foi possível sentir, que foi, eu, um membro humilde da minha raça, fui escolhido para representá-la pelo destino neste quase último grande trabalho da humanidade”                                                                                                                         Matthew Henson                                                                 no livro “A negro explorer at the North Pole” (1912) sobre a chegada ao Polo Norte
    Antes de morrer em 1955, ele foi o primeiro afro-americano a fazer parte do Explorers Club, que reúne diversos pioneiros do mundo. Entre os membros, estão Neil Armstrong, primeiro homem na Lua, e Sir Edmund Hillary, primeiro homem no topo do monte Evereste.
    A obsessão pelo Polo Norte                                                                                                                                                               Antes de conquistar o Polo Norte, os primeiros exploradores queriam encontrar uma rota que ligasse o oceano Atlântico ao Pacífico, conhecida como Passagem do Noroeste.                 Foram os primeiros passos para uma obsessão que se firmaria a partir do século 19. Até então, apenas uma pequena comunidade Inuit se estabeleceu próxima do extremo norte do planeta, mas a região permaneceu isolada por séculos.                         Americanos, britânicos, alemães e dinamarqueses estão entre os navegantes que avançaram pouco a pouco rumo ao Norte, e até uma expedição sueca tentou chegar sem sucesso de balão. Em muitos casos, os barcos ficavam presos no gelo que se formava rapidamente em torno do casco, obrigando os viajantes a aguardar meses pelo derretimento ou por um resgate.                              Uma das missões mais famosas é a de Sir John Franklin, de 1845. A bordo de dois navios, 133 marinheiros entraram em águas do Ártico e desapareceram. A catástrofe atraiu outros exploradores, que tentaram por anos encontrar as embarcações perdidas — que só foram localizadas em 2014 e 2016.               No final do século 19, os europeus continuaram investindo na corrida pelo Norte. O feito, no entanto, estava mais próximo para dois americanos: Robert Peary, envolvido em oito expedições no Ártico entre 1886 e 1909 (a maior parte delas junto de Matthew Henson), e Frederick Cook, médico em algumas das missões de Peary, mas que decidiu chegar ao Polo Norte sem ele.                  A corrida foi vencida por Peary, Henson e os esquimós em 1909. Na verdade, uma vitória apenas por convenção, porque em uma revisão dos documentos da expedição nos anos 1980, a National Geographic Society descobriu que a dupla chegou próximo, mas não exatamente no Polo Norte.                                                    Nas décadas seguintes, a primeira expedição que chegou de fato aos 90º norte foi a de uma equipe soviética em uma viagem aérea em 1948. Já em 1969, o explorador britânico Wally Herbert seria a primeira pessoa a chegar a conquistar o extremo norte a pé, em uma jornada de mais de 6.000 km de chão.

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