segunda-feira, 24 de agosto de 2020

O CASARÃO ABANDONADO

REQUINTE FRANCÊS E DISPUTAS: CONHEÇA O CENTENÁRIO CASARÃO ABANDONADO DA AVENIDA PAULISTA


Os herdeiros do barão do café, Joaquim Franco de Mello, que construiu o local à moda francesa, se envolveram em entraves jurídicos após o tombamento do imóvel.


O Palacete Joaquim Franco de Mello tem fama de ser mal assombrado e disperta muita curiosidade nos transeuntes que passam na Avenida Paulista, em São Paulo. Acontece que o local, que fica no número 1919 da avenida, tem uma histórica muito rica. Isso se nota só de ver a sua fachada imponente, de arquitetura típica da Belle Époque francesa.


As influências da França são provenientes também do período do rei Luís XV e marcam os enfeites e o caixilho das janelas, além de uma janela de telhado renascentista. Mais conhecido como o Casarão Abandonado da Paulista, o edifício data de 1905.


Naquela época, a região da atual avenida ainda era palco para a alta sociedade - lá estavam as elegantes e grandiosas mansões dos barões do café, além de indústrias de comerciantes paulistanos.
Naquela imensidão de mansões, o casarão foi erguido, graças ao português Antônio Fernandes Pinto. Porém, o construtor ficou insatisfeito e foi até a França, buscar um arquiteto que pudesse refazer o imóvel a seu gosto.
A mansão acabou sendo reinaugurada em 1912. Em 1921, o local passou por mais uma reforma e foi ampliado, chegando a ter 35 cômodos diferentes espalhados por 600m² de área.
Na década de 1930, passou a morar no casarão a família Franco de Mello, composta pelo coronel e rico agricultor, Joaquim, e sua esposa, Lavínia, além de seus três filhos Raul, Raphael e Rubens Franco de Mello.


O prédio onde viveram os Franco de Mello foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico de São Paulo em 1992. A família não gostou nenhum pouco da decisão. Alegou que o tombamento desvalorizou o imóvel. Assim, a rica família exigiu na Justiça a expropriação do terreno.
Após se envolver na disputa judicial, e antes mesmo de qualquer decisão sair na justiça, Renato Franco de Mello, neto do barão do café que construiu o imóvel, resolveu se mudar para a mansão em 2010.


Em 2012, o governo estadual acabou sendo condenado a pagar aos herdeiros Franco de Mello uma indenização de 110 milhões de reais. No entanto, o valor nunca foi quitado. E enquanto o dinheiro não era pago, o herdeiro não quis deixar o imóvel.
“Eu sou o único herdeiro que gosta de coisa velha, então me pediram para morar aqui”, explicou. “É para evitar que o palacete seja invadido pelos sem-teto. Já pensou?”, contou Renato.


O homem vivia dos lucros de um terreno da família, a fazenda Primavera, nos arredores de Araçatuba. Porém, em 2002, a fazenda foi desapropriada pelo governo federal para fins de reforma agrária.


Renato dividia então o casarão da Paulista com seus caseiros. Como não tinha dinheiro para pagá-los, permitia que eles vivessem lá em troca do trabalho que faziam na casa. Desde então, esporadicamente, ele promoveu feiras de arte e eventos como feiras de adoção para animais.
No dia 5 de fevereiro de 2019, o herdeiro morreu por complicações de um câncer, que ele já lutava contra por mais de um ano. Foi enterrado no Cemitério do Araçá, na Zona Oeste de São Paulo.
Após sua morte, a família do herdeiro teve enorme dificuldade de manter o casarão. Entraves jurídicos e a falta de iniciativa do governo para assumir o imóvel, tornou-se um problema. Os familiares alegam que isso dificultou um melhor aproveitamento e a preservação do local.
Finalmente, no começo deste ano, foi anunciado que o espaço irá passar por uma nova reforma, que manterá suas características históricas. A ideia é transformar o casarão abandonado da Paulista em um espaço cultural, com foco em um museu de ciência.


A empreitada será financiada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), por meio do SESI, em uma parceria com o Governo do Estado de São Paulo. O nome do novo espaço ainda não foi divulgado.
O que se sabe é que ele irá oferecer muitos recursos tecnológicos para os futuros visitantes, e será inspirado no Exploratorium, laboratório público na cidade de São Francisco, nos EUA.

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