Já sei. O
Facebook é agente da CIA e somos vigiados 25 horas por dia. Mas eu curto redes
sociais. Só evito falar das bombas que colocarei nos quarteis e das criancinhas
que devorei. Cruas e bem temperadas. Foi assim que entrei numa polêmica absurda
que nunca existiria sem o FB.
Alguém
publicou uma imagem com o título “Como pôr uma mesa formal”, assinada pelo
Gourmet de Portugal. Uma versão que eu chamaria de “simplificada”, pois, em
tempos remotos, já sentei em mesas até mais complexas. Impressionante foi a
chuva de críticas e piadinhas que esta simples imagem provocou. Ora, não se
tratava mais do que a representação de como colocar pratos, copos e talheres
num cerimonial clássico. Qualquer diplomata saindo do Instituto Rio Branco sabe
disso e nunca se atrapalhará ao sentar-se em uma mesa de complexa geografia.
Aliás, a fama de excelência desta nobre casa é internacional.
Cada
elemento compondo a mesa responde a rigorosa lógica. Da mesma forma que os
pratos serão sempre servidos pela esquerda do participante e retirados pela
direita. Regras e códigos de comportamento são essenciais para conviver em
qualquer forma de sociedade. Podem ser transgredidos claro, mas isso terá um
custo. Nossas maneiras à mesa são frutos de uma longa evolução, como a
gastronomia, a saúde e a higiene. Até o século XI comia-se com os dedos. Quando
Teodora, princesa bizantina, teve a audácia, em Veneza, de usar um garfo de
dois dentes, aquilo foi considerado heresia pela Igreja, o talher sendo símbolo
do Diabo.
Nos países
árabes, a etiqueta exige que se coma com a mão, em vasto prato comum. Isso não significa
que não haja regras. Só se deve usar três dedos da mão direita e unicamente a
porção de comida que lhe corresponde. Nada de pegar um pedaço de carne além de
sua área ideal. Lavam-se as mãos antes e depois da refeição. Em certas culturas
arrotar é sinal de satisfação, de agradecimento.
Muitos
países asiáticos usam palitos. A tigela ou o prato será levado, especialmente o
arroz, bem perto da boca e o barulho de sução não será considerado
inconveniente.
Em todas as
culturas tradicionais a refeição é um ato de comunhão que pode até incluir reza.
Senta-se à volta da mesa e cada um se servirá conforme a idade ou o parentesco.
Quando um estranho é convidado a participar, ele será o primeiro servido.
No mesmo debate,
uma pessoa declarou que, com ela, nada destas frescuras; “Pego meu prato, vou
sentar no sofá e ligo a televisão”. Foi exatamente aquilo que me aconteceu
quando, recém-chegado ao Brasil, fui convidado a almoçar em casa amiga. Levei
isso como ofensa pessoal, como declaração de desrespeito, pois nunca tinha
passado por esta situação e quase abandonei o recinto, desistindo do almoço.
Dimitri Ganzelevitch
Jornal A Tarde 14/11/20
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