Em prol da sala de cinema
BERNARD ATTAL
Durante a Segunda Guerra Mundial, na França, por conta da escuridão, era um dos lugares favoritos de encontro da resistência clandestina contra o invasor nazista. Ainda na França, existe a teoria de que a Revolução de Maio de 1968 começou, na verdade, em fevereiro do mesmo ano, quando o governo francês tentou se reapropriar da gestão da Cinemateca em Paris, causando rebelião no meio cultural e dos profissionais do cinema. Não se pode negar que essa dimensão foi obliterada ao longo dos anos enquanto os blockbusters americanos e as comédias nacionais chegaram a ocupar grande parte do circuito comercial. Mas ela permanece, seja durante os festivais, nas estreias ou logo depois daquelas sessões, quando se encontram os velhos amigos cinéfilos ao redor de um café para discutir sobre tal ou tal filme. Do outro lado, é possível pensar que a redução do espaço democrático que se observa no mundo inteiro seja em parte ligada ao crescimento exponencial do espaço virtual.
O que se cria nas redes sociais não são lugares de debates, mas, sim, bolhas de pessoas, geralmente de mesma condição social, com o mesmo pensamento e os mesmos gostos. Da mesma forma, os algoritmos das plataformas de VOD, mais imperfeitos que ainda, fazem com que os filmes escolhem seu público o tanto quanto o público escolhe seus filmes. Talvez a gestão da pandemia do Covid-19 por alguns líderes autocratas só não provocou mais indignação nesses países por causa das redes sociais e das várias plataformas de VOD que incentivaram a população a ficar em casa. O que seria de Trump sem o Twitter? Nosso filme, Sem Descanso, querendo ser uma obra de diálogo sobre a questão trágica da violência policial, e fomentar um debate a esse respeito, se tornou impossível se pensar seu lançamento em outro ambiente a não ser o da sala de cinema, apesar do custo maior e da falta de incentivo público.
Finalmente, vale destacar que a sala de cinema, hoje em dia, é um dos lugares mais seguros que existe. Ao contrário das filas nos bancos, supermercados, rodoviárias e aeroportos, lá não se encontra aglomerações de pessoas. Os exibidores já tomaram providências para administrar a ocupação das poltronas e higienizar os ambientes.
Então, vamos ao cinema?
Sou "rato de cinema" desde criança.
ResponderExcluirAs salas de exibição são o ambiente natural dos filmes.