Muitos analistas acreditaram em Putin quando ele disse que invadiu a Ucrânia por causa da organização militar do Ocidente. Teve gente que acreditou.
Por Ricardo Rangel
“É a economia, estúpido”, disse certa vez Jim Carville, marqueteiro de Bill Clinton, para explicar qual deveria ser o assunto a ser discutido na campanha presidencial.
Quando Putin invadiu a Ucrânia, foram muitos os analistas políticos que diziam “eu sou contra a invasão, mas….” e em seguida tocavam a botar a culpa nos EUA e na expansão da OTAN. Porque, afinal, o Ocidente criou uma situação ameaçadora para a Rússia e etc. e tal, e que é natural que a Rússia se defenda e etc. e tal. (Para certos analistas brasileiros, quando os EUA fazem alguma barbaridade, a culpa é dos americanos; quando são os outros, a culpa é dos americanos também).
Bom, apareceram as exigências de Putin para a paz. Como seria de se esperar, a Ucrânia tem que prometer que nunca, jamais, entrará para a OTAN. Mas tem muito mais.
A Ucrânia tem que prometer que não vai entrar para a União Europeia — que não é uma organização militar, mas uma entidade política — ou qualquer outro bloco de países. Tem que reconhecer que a Crimeia, anexada por Putin em 2014 pelo meio da força, pertence à Rússia. E tem que reconhecer a independência da região de Donbass, cujas tropas separatistas são alimentadas pela Rússia.
Ou seja, a Ucrânia tem que abrir mão de uma enorme parte de seu território — que passará a pertencer à Rússia (ou alguém acredita que Donbass não será forçada a se integrar à Federação Russa?), do desejo de se tornar de fato independente da Rússia, do direito de ser dona de seu nariz.
A Ucrânia que sobrar terá aberto mão de sua soberania, estará enfraquecida e à mercê da Rússia.
Não era a OTAN, estúpidos.
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