quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

TORMENTA NA LUA DE MEL

 

Construção de fábrica da BYD no Brasil é suspensa: centenas de trabalhadores da China estavam em “condições análogas à escravidão”

163 trabalhadores chineses já voltaram ou voltarão para a China

    A fábrica da BYD no Brasil, que prometia ser um emblema da crescente influência econômica da China na América Latina, tem estado no centro de um escândalo trabalhista depois de terem sido descobertas condições análogas à escravidão para centenas de trabalhadores chineses. As autoridades brasileiras suspenderam a construção do projeto enquanto as investigações continuam.

    Em 23 de dezembro de 2024, o Ministério Público do Trabalho (MPT) do Brasil resgatou 163 trabalhadores chineses que trabalhavam em condições descritas como “degradantes” no canteiro de obras da BYD em Camaçari, no estado da Bahia. Segundo a Reuters, estes funcionários foram trazidos para o país com vistos irregulares pela empreiteira chinesa Jinjiang, o que as autoridades descreveram como um caso de tráfico internacional de seres humanos.

    Os trabalhadores viviam em condições insalubres: camas sem colchões, comida não refrigerada e um banheiro para 31 funcionários. Além disso, os seus passaportes e 60% dos seus salários foram retidos, limitando severamente a sua autonomia. Segundo a DW, quem quis se demitir foi obrigado a cobrir os custos da viagem de regresso à China, prática que reforçou a sua dependência da empresa.

    (Imagem: Mohammad Fathollahi/Unsplash)

    Suspensão de vistos temporários e multas para BYD


    Dada a gravidade do caso, o governo brasileiro suspendeu a emissão de vistos temporários para a BYD e suas subsidiárias. A empresa também enfrenta multas financeiras, cujo valor ainda não foi especificado. Segundo a CNBC, os 163 trabalhadores resgatados receberam indenizações e foram transferidos para hotéis antes de retornarem à China.

    Em resposta às acusações, a BYD alegou ter cortado relações com Jinjiang e afirmou estar cooperando totalmente com as autoridades brasileiras, informou a Reuters. A empresa prometeu ajustar as condições de trabalho dos cerca de 500 funcionários chineses que permanecem no país para cumprir a legislação local.

    Entre a reindustrialização brasileira e os direitos trabalhistas

    O projeto BYD, que inclui um investimento de US$ 620 milhões, pretendia produzir 150.000 veículos elétricos anualmente e ser um impulsionador chave nos esforços de reindustrialização. De acordo com a DW, a fábrica também ofereceu uma oportunidade para revitalizar a economia local após o fechamento da fábrica da Ford em Camaçari no ano de 2021. Contudo, o modelo de negócios chinês, que depende de trabalhadores estrangeiros, tem gerado tensões em solo brasileiro:

    Uma oportunidade perdida para a liderança global da BYD

    Segundo o El Economista, o Brasil é o maior mercado da BYD fora da China, com quase 20% de suas vendas internacionais vindo de 2024 vindo do nosso país. As alegações de escravidão trabalhista não só prejudicam a reputação da empresa, mas também podem dificultar o acesso ao financiamento e a expansão das suas operações em outros países da América Latina.

    O incidente também já gerou um debate interno na China sobre as condições de trabalho. Segundo a DW, alguns cidadãos chineses apontaram nas redes sociais que os abusos descobertos aqui no Brasil são semelhantes às condições de muitos trabalhadores na China, onde a cultura de trabalho "996" (trabalhar das 9h00 às 21h00, seis dias por semana) continua sendo predominante.


    00:00/00:52
    Truvid

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