terça-feira, 22 de novembro de 2016

TRAFICO DE CRIANÇAS NO BRASIL...

                               ...UM BOM NEGÓCIO


Eleonora Ramos
Jornalista
noraramos@uol.com.br


Nunca tinha visto ou ouvido a Arlete Honorina Hilu , a traficante de crianças mais conhecida entre os muitos que atuaram nas décadas de 80 e 90, através de adoções simuladas de milhares de crianças. 
O programa Repórter em Ação, da  TV Record, de março passado,  reprisado recentemente, fez uma longa entrevista com Arlete, à beira da piscina de sua bela casa em Serrinhas, Santa Catarina. Vive de rendas, saudável e bem conservada para os seus 70 anos. A reportagem, disponível no site da emissora, mostrou personagens, vitímas e criminosos, do intenso tráfico de crianças no estado, além de documentos, provas e outras entrevistas. 

Mas o depoimento de Arlete Hilu dispensa imagens e palavras. Ela resume, com sua própria história, como se configura o tráfico de crianças no Brasil. Profissional da comercialização de crianças, Arlete intermediou um sem número de adoções irregulares ou apenas simulacros de adoção, prática finalmente reconhecida como modalidade do crime de tráfico de pessoas. 

A lucrativa atividade, organizada a partir dos anos 80, envolve a depender  do caso, juízes e promotores, enfermeiros, conselheiros tutelares, médicos, assistentes sociais, tradutores e os executores, que centralizam todas as etapas, desde identificar mulheres grávidas e bebês disponíveis, negociar, transportar, contratar e pagar cúmplices, comprar documentos e testemunhas falsos. 

Nessa função Arlete Hilu é uma expert de grande experiência. Foram anos “se arriscando” como diz ela, inclusive levando bebês para outros países, atendendo os que podiam pagar pelo delivery. Cita nome e sobrenome de juízes e comparsas, a maioria mortos ou devidamente inocentados pela Justiça. Dá risada sobre os dois anos em que ficou presa. “Foi  divertido”.

 E, diante da câmera, declara, em outubro de 2016, que continua na ativa, há poucos dias fizera a entrega de mais um bebê. Quantos teriam sido nos últimos trinta anos?  Admite que é traficante, mas “de criança, pior se fosse de droga”. Crianças, drogas, armas, tudo mercadoria. Para Arlete o crime compensou e compensa. 

Para ela e outros,  como o padre italiano Lucca di Nuzzo, seu equivalente na Bahia, que, na mesma época, intermediou centenas de adoções internacionais no sertão baiano, a partir da cidade de Serrinha, onde morava e tinha um colégio. 

Expulso da Igreja, ficou preso por 27 dias e hoje vive muito bem em Salvador, como advogado especializado justamente em processos de adoção. 

Traficantes impunes com crimes prescritos, comprovam que ainda vale a pena investir no negócio.  

“Tudo que fiz foi para o bem dessas crianças. Iam viver aqui na miséria e tiveram de tudo, roupa, escola. E muitos ainda  vêm com essa bobagem de procurar mãe biológica”.




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