quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

A IRRELEVÂNCIA DA CULTURA

EM PLENO LARGO DO PELOURINHO, ESTE ESPAÇO FOI A PRAÇA DO REGGAE. DESATIVADA PARA IMPLANTAÇÃO DO PALCO MÓVEL DE AUTORIA DE PASQUALINO MAGNAVITA. 10 ANOS ACUMULANDO LIXO POR TRÁS DAS PLACAS DE ALUMÍNIO.




No início da quarta gestão petista, a área da Cultura apresenta-se no seu momento mais vulnerável. Aqui, não me refiro `a perda do status de ministério. Não, vou abordar certos aspectos que marcaram as ações dos três últimos governos.

O primeiro governo é o do “quebro tudo e arrebento”, ação deliberada de destruir toda a política cultural, retirando a prioridade da Cultura do plano estratégico, comprometendo a diversidade cultural, acabando as bases de renovação, fortalecimento e preservação do nosso patrimônio.

O segundo governo tentou desqualificar a contribuição de Jorge Amado e Dorival Caymmi para a identidade baiana; destruiu o Conselho de Cultura; redigiu uma “lei orgânica” que normalizaria o funcionamento da área. Criação mal-ajambrada sem relação com o meio cultural ou previsão de benefício na sua aplicação, essa lei estabelecia “um sistema”, uma enorme geringonça de aparelhamento burocrático para controle e dominação da atividade cultural; e um “ plano plurianual” risível por ser apartado da realidade local, foram todos remetidos ao esquecimento das gavetas das calendas gregas.

No terceiro, percebemos com precisão a verdadeira abrangência do vazio, a totalidade do nada. Afora o atendimento num balcão errático a uns poucos artistas apaniguados, contemplados pelo grau da proximidade camarada ou influência política; no mais, a completa ausência de mérito, sentido, significado, direção. 
O panorama que se avizinha é de terra arrasada.

Reconhecidamente o discurso petista está sujeito à bitola partidária. A orientação vem da executiva nacional e é repetida com as mesmas palavras até a náusea. Não há espaço para individualidade, liberdade de expressão, e pensamento. Daí o desprezo pelo patrimônio cultural baiano, eles só valorizam as obras daqueles ligados ao partido. Não é o conjunto de valores de nossa população que lhes dá sentido à vida. O sentido da vida deles vem dos postulados partidários. Daí a cultura deles produzir “arte engajada”, datada, que não passa de propaganda partidária, nada mais.

É flagrante a falta de envolvimento dos altos representantes do executivo com a Cultura: que valores de baianidade ostentam, que práticas religiosas professam, quais espaços sagrados frequentam, com que assiduidade, quais são suas práticas de convivência socioculturais?

Ao iniciar o quarto mandato, os dirigentes da cultura petista devem à população explicações que esclareçam a ruinosa situação que experimentamos, consequência dos seus governos. Como superar a inépcia de suas conduções que nos tornaram meros consumidores/expectadores da produção artística de outros estados?

Pois, por essas e outras ações culturais equivocadas seja a marca dos governos petistas.


Oscar Dourado 
Doutor das Artes Musicais, 
DMA, Professor Titular Aposentado da UFBA, 
ex-Presidente do Conselho Estadual de Cultura.

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