segunda-feira, 14 de outubro de 2019

OU O BRASIL ACABA...

...com Bolsonaro ou Bolsonaro acaba com o Brasil

 por Sebastiao Nunes


Quando o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire esteve no Brasil, entre 1816 e 1822, ficou espantado com a fúria das formigas cortadeiras e cunhou a frase que há 200 anos segue parodiada, glosada e deturpada para atender a quem dela se apropria: “Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil”.
Claro que se pode argumentar que a culpa é das elites e da mídia e que, qualquer que fosse a solução, a mídia e as elites continuariam controlando o jogo.
Concordo.
Mas era preciso chegar onde chegou?
Era realmente necessário que, depois de tanto conflito, o país caísse nas mãos de um imbecil despudorado, de um ignorante de pai e mãe, estúpido e arrogante, ex-militar extraído a fórceps do que de mais sombrio poderia existir nas entranhas brasileiras?
Não, meus irmãos, perdão, mas assim também não.
Concordo que já tivemos presidentes horríveis e ditadores horripilantes, mas não me consta que, em alguma outra época de nossa triste história, o grotesco, o patético e a crueldade tenham se dado as mãos como, pela nossa própria insensatez, acontece hoje diante de nossos narizes.
Bolsonaro é um pesadelo do qual não estamos conseguindo acordar.

CIVILIZAÇÃO VERSUS BARBÁRIE
O texto-recorte a seguir é de Gustavo Conde e foi publicado no “Brasil 247” em 12/08/18, há pouco mais de um ano, portanto:
“O embate que está em curso hoje no Brasil, mais do que nunca, é civilização versus barbárie. Não é esquerda versus direita, não é progressismo versus conservadorismo, não é status quo versus renovação: é civilização versus barbárie.”
O texto remete a outro recorte fundamental para a compreensão do que fomos e do que somos, extraído do livro “Tristes trópicos”, de Lévi-Strauss, na edição de 1996:
“Um espírito malicioso já definiu a América como sendo uma terra que passou da barbárie à decadência sem conhecer a civilização.”
E é exatamente o que somos, jovens como somos, por toda essa nossa América, de Trump a Bolsonaro, com a possível exceção do Canadá, que conheço mal e não vou meter neste balaio de gatos.
TEM MAIS? TEM, SIM SENHOR
Nas três citações, duas bastante manjadas, uma palavra-chave é civilização. Outra, barbárie. Uma terceira, decadência. Uma quarta, ignorância.
Estamos, assim, mergulhados numa espécie de barbárie civilizacional, perdida a chance de escapar à decadência e ascender à civilização, por culpa de nossa ignorância.
Enquanto a esquerda brinca de bela adormecida, a direita parece satisfeita com o osso que continua a roer. O centro faz o que sempre fez: fica em cima do muro, sem deixar de ir à colheita quando os frutos amadurecem.
A mídia é a mídia e sempre foi a mídia. Nem vale a pena odiar certas tendências, menosprezar outras ou elogiar as que parecem elogiáveis. Todos jogam pôquer: blefam quando é para blefar e apostam alto, quando sabem que a mão está ganha. Salvam-se os nichos de resistência, que, no entanto, não furam o bloqueio dos poderosos.
Na tendência de copiar os Estados Unidos em tudo o que é abominável, triste e vergonhoso, os neopentecostais avançam como lobos famintos, dispostos a transformar o Brasil numa grotesca imagem especular (e muito piorada) do Grande Irmão do Norte. Um espelho esfarrapado, digamos, um espelho refletindo a escuridão.

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