Produtor de queijos se mata depois de ter toda sua produção apreendida pelo estado
Em mais um caso onde o estado atrapalhou a vida de um empreendedor que gerava emprego e renda, levando ao mesmo trágico fim do empresário de Rio Claro, um produtor de queijos se matou em Edealina – GO após a fiscalização estatal apreender sua produção de queijo mussarela. O homem teria se desesperado com o prejuízo que estava sofrendo, em torno de 40 mil reais, fora multas.
Tudo aconteceu quando os fiscais da Vigilância Sanitária do Estado de Goiás foram até o pequeno laticínio do Sr. João Machado, conhecido na cidade como João da Queijeira, e o por “falta de documentação” informaram ao proprietário que fariam a apreensão de toda a produção de queijo.
João Machado não se conformou com a situação e num ato de desespero, enquanto os fiscais carregavam o produto apreendido numa caminhonete, pendurou-se pelo pescoço em uma corda e jogou-se dentro de uma cisterna. A corda se rompeu e ele acabou caindo dentro da cisterna, falecendo na hora.
É triste ver brasileiros que batalham e lutam por gerar produtos que atendam à população sendo perseguidos pelo estado e levados a atos desesperados quando deveriam ser livres para produzir, trabalhar, gerar empregos e melhorar a vida de milhares de pessoas.
Os 8 melhores livros com temática LGBT, segundo os nossos leitores
Recebemos sugestões dos internautas por meio das redes sociais. Confira a lista completa!
Ao longo das décadas, os grupos LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e pessoas intersex) conquistaram muitos direitos na sociedade. No entanto, a luta contra a homofobia ainda é constante e eles precisam resistir diariamente contra a violência e o preconceito. O Brasil, por exemplo, é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo.
Um levantamento do Grupo Gay da Bahia mostra que, em 2017, 343 assassinatos de lésbicas, gays e travestis foram registrados, o equivalente a uma pessoa morta a cada 25 horas por causa de sua orientação sexual. Em todos os casos, as vítimas foram alvo de agressões físicas.
Quanto mais lemos e estudamos sobre um assunto, mais criamos empatia e tolerância com o próximo. Por isso, perguntamos aos nossos leitores se eles já haviam lido livros com temática LGBT. Nas redes sociais, eles indicaram os oito melhores títulos com esse tema. Confira a lista!
A lista não poderia começar melhor. Publicado em 1956 e relançado em agosto, O quarto de Giovanni é o segundo romance de James Baldwin e um dos principais clássicos modernos. Com toques autobiográficos, o livro trata de uma relação bissexual ao acompanhar David, um jovem americano em Paris à espera de sua namorada, Hella, que está na Espanha. Enquanto ela analisa se deve ou não casar-se com David, o jovem conhece Giovanni, um garçom italiano por quem se apaixona.
O fim de Eddy, romance autobiográfico de uma das mais proeminentes vozes da nova literatura francesa, desvela o conservadorismo e o preconceito da sociedade no interior da França. De forma cruel, seca e sufocante, a violência e a amargura de uma pequena cidade de operários se contrapõem à sensibilidade do despertar sexual de um garoto, estabelecendo um paralelo direto com as experiências do próprio autor.
O livro Com amor, Simon questiona os padrões impostos na sociedade e, com bom humor, retrata as inquietações de um adolescente gay. O protagonista Simon Spier, de 16 anos, é gay e não conversa com ninguém sobre o assunto. Ele não vê problemas em sua orientação sexual, mas não quer dar explicações às pessoas. O jovem começa a lidar com as inseguranças após trocar e-mails com um menino misterioso que se identifica como Blue.
Me chame pelo seu nome conta a história de uma família italiana que recebe vizinhos, artistas e intelectuais de todos os lugares durante os verões. O filho do casal, Elio, se encanta por um americano que chega à residência. Espontâneo e atraente, ele passa uma temporada no local para trabalhar em seu manuscrito sobre Heráclito e ainda desfrutar do verão mediterrâneo.
Baseado em fatos reais, este romance desafia rótulos e hipocrisias, revelando os meandros de consciência de Marcus, um jovem comum da classe média paulistana. Com o melhor amigo Renato, descobre o amor e compreende que os dois precisarão encontrar o equilíbrio entre o que sentem e o que a família e a sociedade esperam deles, até que um terceiro personagem aparece.
A garota dinamarquesa, de David Ebershoff, conquistou o público, principalmente, após a adaptação para os cinemas. Inspirado na vida do pintor dinamarquês Einar Wegener e da sua esposa americana, o livro faz um retrato terno e comovente sobre um amor que desafia todos os limites.
Azul é a cor mais quente conta a história de Clementine, uma jovem de 15 anos que descobre o amor ao conhecer a jovem de cabelos azuis Emma. A partir dos textos do diário de Clementine, conseguimos acompanhar nos quadrinhos o primeiro encontro das duas e conhecer as descobertas, maravilhas e tristezas dessa relação.
Esta é a segunda vez que Nelson Luiz de Carvalho aparece na lista. Depois de 15 anos de casamento, Leonardo decide sacrificar sua vida estável a fim de descobrir novos sentimentos e uma identidade verdadeira. Excluído dos padrões estabelecidos pela sociedade, o personagem deve enfrentar conflitos comuns a todos nós: Como encontrar novos parceiros? Que lugares frequentar?.
Não tem coisa melhor do que cuidar da nossa saúde e nos alimentando da melhor forma possível! Até para quem não é acostumado, de vez em quando é bom prepararmos uma receitinha como essa de almôndegas de berinjela. Eu particularmente amo essa iguaria, e o pessoal aqui de casa também. Experimente fazer ai na sua casa, tenho certeza que sua família vai adorar.
Confira agora o seu modo de preparo, quero ver todo mundo arrasando com essa receita. Desejamos sucesso a todos!
Ingredientes:
2 Berinjelas
1 cebola
3 dentes de alho
4 colheres (sopa) de farinha de rosca
2 colheres (sopa) de azeite de oliva
Óleo para fritar
2 ovos
Pimenta-do-reino a gosto
Sal a gosto
Modo de preparo:
Primeiro passa, reúna os ingredientes acima indicados. Em uma frigideira com azeite, refogue a cebola e o alho picados, até dourar.
Depois acrescente a berinjela descascada e cortadas em cubos pequeno, e continue cozinhando até que fique macia.
Após o passo anterior, coloque todos os ingredientes do refogado no liquidificador ou processador, e bata muito bem, até obter uma pasta.
Coloque a pasta numa tigela e misture com o ovo, a farinha de rosca, sal e pimenta a gosto.
UM GÊNIO ENTRE NÓS: CHARLES DARWIN FOI ALVEJADO POR BALÕES D’ÁGUA NO CARNAVAL DE SALVADOR
A passagem pela capital foi relata em cerca de dez páginas em seu diário de bordo. "Difícil manter nossa dignidade", resmungou o cientista
Em 1831, Charles Darwin, até então apenas um estudante da Universidade de Cambridge, com 22 anos na época, foi convidado a participar de uma grande expedição. À bordo do HSM Beagle, Darwin passou cinco anos percorrendo vários continentes, sendo a América do Sul o primeiro entre eles.
Foi em solo brasileiro que ele se deparou pela primeira com uma vasta diversidade florestal e também se impressionou com a brutalidade da escravidão. Daqui, ele voltou com dezenas de espécimes vivos, além de ilustrações e fósseis. Esse último item, deu a ele uma das primeiras pistas sobre a evolução dos seres vivos — ideia que ele perpetuaria décadas depois com a publicação de A origem das Espécies.
Porém, um fato que ficou pouco conhecido sobre a passam do naturalista por solo tupiniquim foi a presença de Darwin no carnaval de Salvador. Na Bahia, ele teve uma estadia relativamente rápida: de apenas 18 dias. Mas esse período foi o suficiente para marcá-lo:
“Hoje é o primeiro dia de Carnaval, mas Wickham, Sullivan e eu não nos intimidamos e estávamos determinados a encarar seus perigos. Esses perigos consistem principalmente em sermos, impiedosamente, fuzilados com bolas de cera cheias de água e molhados com esguichos de lata”, relata o próprio Darwin no livro Charles Darwin’s Beagle Diary.
A passagem pela capital foi relata em cerca de dez páginas em seu diário de bordo. "Difícil manter nossa dignidade", resmungou.
Senadores disfarçam mordomia do carro oficial retirando a placa preta
Senadores tiram a placa preta para disfarçar carros oficiais
Os senadores Jaques Wagner (PT-BA), Álvaro Dias (Pode-PR) e até o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), encaminharam solicitação à área administrativa para esconder as “características identificáveis” nos carrões oficiais, como placa pretas. A assessoria de Dias confirmou o pedido e justifica que o senador do Paraná precisa “transitar com naturalidade”, sem chamar atenção para a placa preta. A informação é da Coluna Cláudio Humberto, do Diário do Poder.
Alvaro Dias alega que não deseja se valer “dos privilégios da placa de autoridade”. Para ele, privilégio não é o carro, é a placa. Ah, bom.
A assessoria admitiu que Jaques Wagner fez “consulta” sobre esconder a placa preta, depois disse que o senador usa o próprio carro.
A presidência do Senado não explicou por que até Davi Alcolumbre, que dispõe de uma frota, quer fingir que os carrões não são oficiais.
O carro oficial é apenas um dos muitos privilégios dos senadores, que no total custam mais de R$210 mil por mês aos cidadãos.
Polícia Militar se tornou a força mais corrupta e mais letal do Brasil
Os políticos e a própria população incumbem-se de incentivar uma série de desmandos
É possível aplaudir nestes momentos, ainda que com cautela, o desempenho das polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro, as quais, após um ano – um ano! –, prenderam os acusados de matar a vereadora Marielle Franco e seu motorista? Fantástica demora, sem fechar o caso.
Presos dois policiais militares aposentados, mas é preciso encontrar o mandante ou os mandantes do crime. São, porém, os PM os que mais se prestam a tais serviços sujos. Como se dá agora. São eles os que mais matam, trata-se da força mais corrupta e mais letal do País.
O sangue derramado no Rio pela perseguição policial infelizmente jorra forte em todos os estados. Em 2018, mais de 5 mil pessoas foram mortas por policiais. À terra carioca a indiscutível primazia: acima de 1,2 mil.
Um relatório produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública confirma inexoravelmente tanto a violência policial no Rio de Janeiro quanto a corrupção. Será porque o agente carioca ganha menos que seu par de outros estados? Oficialmente, é possível. Não é, porém, apenas por esta razão. Foi ao longo da história que os cidadãos e os policiais aliaram-se à polícia. Daí nasceu a cumplicidade. Agora todos pagam o preço.
Uma cena corriqueira vê fardados a filar boia nos restaurantes, mesmo os mais estrelados. Comem, pedem um palito ao garçom e saem agradecidos. O único constrangimento é do freguês.
“Brasil e Estados Unidos, juntos, assustam os defensores do atraso e da tirania ao redor do mundo” (Bolsonaro propôs, Trump topou. Dormirão em paz)
Exemplo, só aparentemente miúdo. Esses péssimos hábitos ocorrem também por conta do comandante do quartel. Libera os comandados, se não todos alguns deles, devidamente autorizados, a botar gasolina de graça nos carros oficiais no posto da esquina.
Está claro que o problema maior foi gerado pela chegada das drogas. O dinheiro rolou e se fixou. Os governantes apelaram para o Exército. Houve resistência, temiam a contaminação dos soldados pelo exército de traficantes.
Nada mais exemplar do que a recente incursão oficial no Rio. Nos meses que passaram na cidade, praticamente, tudo ficou na mesma, quando não piorou. Visitaram as favelas do Alemão, da Penha e da Maré. Na verdade, foram cinco dias de operação sem sucesso, até que as “férias” chegaram ao fim.
Nestas ocasiões, cresce sorrateiramente a aproximação entre soldados e traficantes, enquanto a guerra produz as suas vítimas.
Un paseo matemático por la Alhambra: cuando el arte se basa en los números
A ojos de alguien no-experto en matemáticas, el arco que encabeza estas líneas puede transmitir una gran armonía, pero resultaría difícil explicar el por qué. La causa de esa armonía está en las matemáticas empleadas para su diseño, para una composición extraordinariamente calculada.
Este arco en concreto es el arco del mihrab islámico cordobés del granadino palacio de la Madraza, un lugar que indica hacia qué dirección se debe rezar según la religión musulmana. Si nos fijamos, los arcos interior y exterior no son concéntricos, es decir, no comparten el mismo eje. El arco interior está elevado R/2 por encima del eje de impostas, y el arco exterior elevado un R/5.
Las líneas que determinan las dovelas que hay entre los arcos se cortan todas en el mismo punto, que resulta ser el punto medio de la línea de impostas. Este tipo de arcos se suele usar en lugares especialmente importantes.
Já que a história das lavadeiras está em alta com a vitória da Viradouro com o tema sobre as Ganhadeiras de Itapoã é um bom momento para lembrar o que aconteceu com a Fonte do Gabriel, localizada na Rua Augusto França, no bairro do Dois de Julho, Centro Histórico de Salvador. Foi uma das primeiras fontes de água da cidade e é assim chamada pq, no século 16, pertenceu ao português Gabriel Soares, agricultor, estudioso e um dos primeiros historiadores do Brasil. A fonte tem a inscrição nº 29 no Livro de Tombo de bens Imóveis do IPAC, desde 1984.
Hoje está ilegalmente privatizada, murada, transformada em quintal e piscina de uma residência particular há anos, porém, segundo o Decreto-Lei n° 25/1937 art. 18 "sem prévia autorização do SPHAN [atual IPHAN], não se poderá, na vizinhança da coisa tombada, fazer construção que lhe impeça ou reduza a visibilidade, nem nela colocar anúncios e cartazes, sob pena de ser mandada destruir a obra ou retirar o objeto, impondo-se neste caso multa de cinquenta por cento do mesmo objeto".
Tourinho, Aucimaia de Oliveira - Estudo Histórico e Sócio-ambiental das principais fontes públicas de Salvador - Dissertação de mestrado - Escola Politécnica - UFBA (2008)
'O problema do Rio não são os bandidos, são os mocinhos', diz ex-chefe da Polícia Civil
Quase vinte anos após fala incisiva no documentário 'Notícias de Uma Guerra Particular', Hélio Luz diz que intervenção federal deve atacar corrupção policial e reduzir ações ostensivas em favelas, que estigmatizam moradores.
Júlia Dias Carneiro - Da BBC Brasil no Rio de Janeiro
Os diagnósticos incisivos de Hélio Luz, ex-chefe da Polícia Civil no Rio, ficaram marcados na memória de quem, há quase 20 anos, o assistiu no documentário "Notícias de Uma Guerra Particular", descrevendo uma polícia que foi "criada para ser violenta e corrupta" e teria papel de "garantir uma sociedade injusta".
Aos 72 anos, Luz está aposentado, afastado da vida pública e vive com a família em Porto Alegre, onde nasceu. Mas continua acompanhando de perto as notícias da guerra particular que não acaba no Rio.
Em entrevista à BBC Brasil, ele faz o esforço constante de deslocar o foco das favelas, que têm sido objeto de operações policiais e militares, e apontar o espelho de volta para as elites, para a classe média e para as forças de segurança.
"Por que cercar a favela, se o crime não está ali? O cerne da questão da insegurança não está ali. Aquilo ali é o resultado", afirma, considerando que os "meninos que estão no tráfico" são produto da desigualdade social.
Luz considera que a intervenção federal pode trazer benefícios se deixar de lado ações ostensivas nas favelas - que equivalem a "enxugar gelo" e estigmatizam os moradores - e trabalhar para recuperar as estruturas policiais, neutralizando a ação de agentes corruptos e fazendo com que os "mocinhos" - integrantes do sistema de segurança - façam jus à designação popular.
"O problema do Rio não são os bandidos. O problema do Rio são os mocinhos. Se ele recuperar o quadro de mocinhos, ele pode dar uma atenção real ao quadro de bandidos", afirma.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
BBC Brasil - Como o senhor se posiciona em relação à intervenção federal?
Hélio Luz - Eu entendo que a intervenção é constitucional. É inédita, mas é constitucional. A discussão está sendo muito reduzida ao oportunismo político de quem detém o poder. Foi uma medida oportunista? Foi, e nisso está longe de ser a primeira.
Mas acho que temos que ter uma discussão mais consequente. Estamos falando do problema de segurança da população do Rio. Há uma questão real e podemos ter uma conversa séria sobre isso.
Não vou falar no interventor, que é um cargo político, e sim no general Braga Netto, que manda no Comando Militar do Leste. O CML é o mais antigo e o mais completo arquivo de informações sobre os integrantes das polícias Civil, Militar e dos bombeiros do Estado do Rio. A troca de informação do Exército com as polícias é constante. A segunda seção das Forças Armadas sabe de tudo.
Outros comandantes do CML tiveram acesso a essas informações, mas não podiam fazer muita coisa. Agora o general tem acesso a essa inteligência e pode agir com base nela. Pode mudar o comando e mexer nas polícias. Isso é inédito.
BBC Brasil - Mas a intervenção tem data para acabar, dia 31 de dezembro. É possível resolver problemas estruturais na área de segurança?
Hélio Luz - Não, para isso, ele precisaria de mais tempo e de uma discussão mais ampla sobre um projeto de segurança. Mas ele pode recuperar a estrutura existente.
O grande problema que temos é quem executa a segurança pública. Os integrantes das polícias Militares e Civil. Se o general recuperar as estruturas internas, os agentes que provocam a insegurança ficarão limitados ao ambiente externo.
O problema do Rio não são os bandidos. O problema do Rio são os mocinhos. Se ele recuperar o quadro de mocinhos, ele pode dar uma atenção real ao quadro de bandidos.
BBC Brasil - O mocinho é o policial?
Hélio Luz - Não só o policial. São os integrantes do sistema de segurança que operam no Estado do Rio. Pode ser bombeiro, agente penitenciário, policial rodoviário. É preciso transformar o mocinho em mocinho.
Crime organizado pressupõe atuação a nível nacional, formação de um cartel e inserção nos poderes da República. O que denominam "bandidos" no Rio, e tenho ojeriza a isso, não é crime organizado. O tráfico no Rio não é cartelizado e disputa permanentemente a área geográfica. Não tem um exército ou integrantes constantes. Tem muitos problemas internos.
O pessoal não percebe que isso é um produto da sociedade. Esses meninos que estão no tráfico são um produto direto nosso, da classe média, dos detentores do poder desse país.
BBC Brasil - São um produto da desigualdade social?
Hélio Luz - São um produto da concentração de renda. E não venha me dizer que a Índia ou outros países com desigualdade não têm esse problema. Aqui é diferente, pô. O nosso nível de concentração de renda é muito alto e resulta nisso.
A favela é produto nosso. Como é que não é produto dos que detêm o poder? Como é que não é produto da classe média? É produto meu. Como é que eu tenho aposentadoria integral e não tenho responsabilidade sobre a favela? Para eu ter meus privilégios, tem que existir favela. Isso é óbvio. O dinheiro público é um só. Se eu abocanho uma maior parte, falta do outro lado. Não há saída para isso.
Ele (o general) tem condição de recuperar as estruturas policiais e beneficiar o segmento que mais sofre com essa parafernália toda, o favelado, que é estigmatizado.
Lógico que para isso ele vai precisar de um grupo de policiais civis e militares que não usem o tal do guardanapo da cabeça. Não pode. Polícia que gosta de botar guardanapo na cabeça não serve para recuperar.
BBC Brasil - O senhor está falando do ex-governador Sérgio Cabral e do famoso jantar em Paris, com a farra dos guardanapos na cabeça.
Hélio Luz - É isso. Você pode ter um guardanapo para limpar a sua boca, com dinheiro privado. Na hora que você bota o guardanapo na cabeça, é dinheiro público.
Retirar a turma do guardanapo na cabeça é difícil, mas o general pode isolá-los, neutralizá-los. Não precisam ser todos. Na hora que neutraliza uma parte considerável, o restante se enquadra.
A partir disso, ele tem condições de reduzir as ações de vigilância ostensiva que essas GLOs (operações militares para Garantia de Lei e da Ordem) fazem, com tropas nas favelas estigmatizando essas áreas. Como se o problema estivesse dentro das favelas. Não está.
Como ele tem um comando inédito do sistema, ele pode priorizar investigações integradas e coordenadas para prender os agentes externos da insegurança.
Eu tenho muita dificuldade de chamar de bandido. Aqui no Brasil, chamar o pessoal que mora na favela de bandido é de uma incoerência tremenda. O bandido brasileiro usa terno e gravata.
Se ele (o general Braga Netto) quiser aprofundar as investigações, ele vai parar nas mesas de câmbio que operam na avenida Rio Branco (no centro do Rio).
Ninguém pode imaginar que o menino da favela tenha capital o suficiente para bancar os entorpecentes que circulam ali. Quem detém o capital que financia as drogas tem uma mesa que opera câmbio na Rio Branco e um filho que frequenta bons colégios. Se o general chegar lá, aí realmente vai estar combatendo o crime e melhorando as condições de segurança do Rio.
BBC Brasil - O senhor diz que o general pode reduzir a ação ostensivas nas favelas, mas a expectativa é que essas ações possam aumentar, e semana passada vimos operações militares inclusive com fichamento de moradores.
Hélio Luz - O problema é que até agora foram operações de GLO, e elas repetem o trabalho de vigilância que a polícia já fazia.
Se ficar operando nessa linha, só vai enxugar gelo. Vai ocorrer o mesmo de sempre. O pessoal (os traficantes) se afasta porque não quer confronto, mas depois retorna.
Por que fazer uma operação para cercar uma favela, se o crime não está ali? O cerne da questão de insegurança não está ali. Aquilo ali é resultado.
BBC Brasil - Em Notícias de Uma Guerra Particular, o senhor diz que a sociedade brasileira tem a polícia que quer, que garante uma elite com privilégios e uma lei que não vale para todos. O senhor acha que isso mudou?
Hélio Luz - Essa pergunta é difícil. Acho que o Brasil que vivemos na década de 60 mudou. Tivemos avanços. Naquela época não podia se falar nada sobre um senador (sobre ações ilícitas). Hoje em dia, um senador está vulnerável.
Mas um dos grandes problemas que temos nesse país é a tolerância com a ação à margem da lei. Vivemos em um tempo em que é admitido você ficar na franja. Os atos inconstitucionais estão se normalizando. A violação à lei está sendo admitida com muita tranquilidade.
Qual é a referência que se dá ao infrator que está lá na ponta? Quando a infração é praticada pelo excluído, você chama o Exército. Quando é praticada pela classe média e pelos detentores do poder, nada.
Se a lei é para ser cumprida na favela, é para ser cumprida por todo mundo. Ou a lei vale para todos ou não vale para ninguém.
BBC Brasil - No documentário, o senhor disse que a repressão policial evitava uma explosão social, mantendo o excluído sob controle. Essa lógica prevalece?
Hélio Luz - Sim. Na África do Sul, eles colocavam cerca de arame. Aqui não precisa colocar a cerca, porque cada um sabe o seu lugar. Então para quê você vai colocar uma operação dessas cercando a favela? O crime não está ali. Entende? O cerne da questão da insegurança não está ali. Aquilo ali é resultado.
Agora, a má distribuição de renda voltou a se acirrar, a polícia não deu mais conta e teve que chamar o Exército.
BBC Brasil - O senhor fala na concentração de renda, mas isso explica o fortalecimento das facções criminosas e as crescentes disputas por territórios?
Hélio Luz - Desculpe, mas isso é uma visão que só quem tem privilégios nesse país pode ter. Porque localiza a disputa lá na ponta. "Não, não somos nós que participamos disso. São eles." Eles quem? Os excluídos do patrimônio público. A guerra está entre eles, mas é sustentada pela turma de cima.
É preciso estabelecer uma relação entre o auxílio-moradia (benefício pago a juízes) e a parte considerável da população que não tem moradia. Essa relação causa-efeito existe nesta e em inúmeras questões.
Em todas elas, quem paga a conta no final é o favelado. Somos o país da desigualdade. E ficamos preocupados porque tem problema, entende, na senzala. Afrouxou a senzala, então agora tem que apertar de novo. Então chama o capitão do mato para dar uma solução na senzala do século 21.
O problema social está no centro da questão da favela, e a questão de segurança do Estado é uma decorrência. Quem financia a droga que está lá? É um deboche achar que o favelado tem capital suficiente para bancar a ida, vinda e perda de qualquer quantidade de entorpecentes.
BBC Brasil - Não seria o favelado que teria esse dinheiro, mas sim as facções criminosas.
Hélio Luz - Será que elas têm? Qual é a herança deixada por traficantes? Qual foi a herança deixada pelo Uê (Ernaldo Pinto de Medeiros, fundador da facção Amigos dos Amigos)? Qual é o acúmulo de todos esses chefetes que existiram?
BBC Brasil - Mas não é patrimônio acumulado, e sim de capital de giro do tráfico.
Hélio Luz - Eles não têm dinheiro acumulado. Como é que você acumula dólar? Vemos muitas simplificações quando se fala sobre o tráfico. Aí mostram a mansão do chefete que foi preso na favela. É ridículo isso. A cobertura dele é num terceiro andar com piscina na laje. Perto dos prédios que existem na Vieira Souto, na Delfim Moreira (na orla de Ipanema e Leblon). Qual é o conceito de mansão?
Fala-se que que eles acumulam dinheiro e estão bem organizados. Onde, se estão disputando boca por boca (de fumo)? Onde há crime organizado com disputa de território permanente? Não existe. Se o cara tivesse dois milhões de dólares disponíveis, ele saía da favela e ia ser rentista (risos).
Meninos brincam de pipa no Alemão; Hélio Luz fala que ocupação do complexo foi 'ilusão'
BBC Brasil - Vemos sucessivos exemplos de traficantes presos que continuam a dar ordens de dentro da prisão, com o Nem da Rocinha. Como isso ainda acontece?
Hélio Luz - Essa condição quem dá é o sistema de segurança. O cara faz o controle por meio de agentes penitenciários. Ou é só o ex-governador (Sérgio Cabral) que tem acesso a uma comida especial (no presídio)? O mesmo caminho é usado no Rio, no Paraná ou em qualquer Estado. O sistema de segurança é vazado.
A classe média tem uma visão distorcida disso. Acha que a ponta está se organizando. Nada disso. É a desorganização do sistema penitenciário que permite que ordens saiam dos presídios.
Nós vivemos muito de ilusão. É muita ficção. A tomada do Alemão foi uma ilusão. O Complexo do Alemão nunca foi tomado. Mas por um momento aquilo (a operação de ocupação realizada por forças de segurança em 2010) gera uma sensação de segurança, e você se ilude.
Quem detém o controle? Quem recebe a corrupção ou o cara que paga? É o agente que recebe a corrupção. É quem recebe a grana. Se não pagar para a polícia, de duas uma, ou você se muda, ou vai para a vala.
Sem pagar a polícia, não se pratica crime no Rio de Janeiro.
BBC Brasil - Os problemas de segurança no Rio hoje não parecem muito diferentes da sua época à frente da Polícia Civil, nos anos 1990. Que perspectiva o senhor vê para o futuro?
Hélio Luz - Eu sou otimista. Acho que essas crises são crises de avanços. Não estamos em uma situação horrível. Quem viveu nos anos 60, 70 sabe que jamais se podia apontar o dedo para um senador.
Tudo que está acontecendo (os casos de corrupção) acontece há muito tempo nesse país. Sempre houve, mas agora nós sabemos. Agora vem a público. O Marcelo Odebrecht passar quase dois anos numa prisão é simbólico. A exposição do Judiciário com o caso do auxílio-moradia é simbólico.
Ainda é pouco, mas estamos avançando. Os desdobramentos são feitos à brasileira. É uma revolução republicana sem sangue. Aos poucos, a república vai se instalando.