O recente artigo de Paulo Ormindo sobre o escândalo da Quinta do Tanque e de seu importantíssimo acervo de arquivos levantou em mim algumas dúvidas com certeza oriundas de meu desconhecimento tanto nos domínios jurídicos como no que tange à alma humana.
O primeiro
estranhamento se refere ao fato de a firma TGF ter oferecido á Bahiatursa um
anteprojeto de equipamentos turísticos nunca encomendado pelo dito órgão
estadual. Por qual motivo um estúdio de arquitetura investiria tempo e dinheiro
em elaborar um projeto que nunca fora encomendado por ninguém? Falta do que
fazer?
Outro
estranhamento: a Bahiatursa deveria ter mandado, sem qualquer demora, uma carta
devidamente registrada, recusando a iniciativa não solicitada. Foi feito, ou,
como de costume, a burocracia e o famigerado “empurra com a barriga” omitiu
esta obrigação, talvez até propositalmente?
Para
concluir estas considerações, entrando no campo movediço da alma humana - se é
que, neste caso, exista sombra de alma -
algo me incomoda muito mais. Lembrando que a arquitetura é considerada
como a primeira e mais nobre das Belas Artes, o que, a princípio, faz do
arquiteto algo como um sacerdote, revestido de dignidade e respeito pela
sociedade, como pode um trio de arquitetos passar por cima do Bem Público (a
tal res publica) e ao desprezar a história de um país inteiro, incluídos
bandeira e hino nacionais, prejudicar a memória de seus antepassados, de seus
pares e de seus filhos, para ganhar... ganhar o quê? Um terreno de pouco mais
de 10 mil metros quadrados e um imóvel tombado com 300 anos de vida numa área
urbana por enquanto pouco valorizada.
Ou será que
a dita firma, longe daquela imagem social de prosperidade, precisa colocar sua
reputação a perigo acaparando* um bem essencial a identidade nacional para
restaurar suas finanças?
O Brasil inteiro precisa da Quinta do Tanque e aguarda um final feliz.
*Acaparar: “Acumular mercadorias em grande quantidade, para subtraí-las ao mercado e revendê-las depois com lucros extorsivos; especular por essa forma no comércio, de modo a garantir certo efeito de monopólio numa localidade ou região.
(Não é o mesmo que monopolizar, pois acaparar é sempre uma atividade ilícita,
ao passo que há monopólios legais.).”
Brasil inteiro precisa da Quinta do Tanque e aguarda um final feliz.
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