segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

ATÉ BREVE, JÂNIO!

 

A MORTE REPENTINA EM PAULO AFONSO, A DOR DA AUSÊNCIA E A ÚLTIMA E MARAVILHOSA CRÔNICA DE JÂNIO FERREIRA SOARES EM A TARDE E NO SITE BLOG BAHIA EM PAUTA..

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O que pensar e, principalmente, o que dizer quanto você vai dormir depois das três da madrugada - e ao desligar o computador onde você trabalhava na atualização do site blog Bahia em Pauta - bate de repente aquele amargor na boca, acompanhado daquela sensação de que algo grave e imponderável esta se passando com alguém a quem você está profundamente ligado ou quer bem e nada pode fazer? A primeira vez que senti algo assim foi na morte inesperada de Juarez Bahia, ex-editor Nacional do Jornal do Brasil, , com quem tive a honra e graça de trabalhar no JB por mais de uma década, quando se construiu uma ligação pessoal, profissional e intelectual tão profunda que não caberia neste espaço. Esta madrugada passada sentimento semelhante se repetiu, quando procurei o artigo de Janio na minha caixa de e-mails, acreditando (erradamente) que havia esquecido de edita-lo no domingo.
E ao levantar, já no começo da tarde, sentado na mesa para o café -almoço o repetido aviso de Margarida, para que eu não esquecesse de tomar o remédio da pressão.
E logo a notícia do infarte e da partida repentina de Janio, em Paulo Afonso, onde ele era secretário municipal de ultura,Turismo e Esportes.
E, logo, o escrito desesperante, da mana Olívia Soares, neste espaço do Facebook: "É uma tragédia perder Janinho. Eu não estou dando conta. Chega!
Janio Ferreira Soares (62 anos) morreu na madrugada desta segunda-feira (13). De acordo com a prefeitura de Paulo Afonso, ele foi vítima de um infarto.
Sem medo de errar, Janinho era um dos melhores cronistas da atualidade. Ele era muito amado pelo povo de Paulo Afonso e por todos que tiveram o privilégio da sua convivência. Meu abraço afetuoso à família e amigos. Adeus, querido.
E o texto de afeto e reconhecimento, postado também no espaço de Olivinha nesta rede social pelo jorrnalista e poeta Florisvaldo Mattos, mestre e amigo do peito, ex-Editor- Chefe do Jornal A Tarde: "Janio Ferreira Soares , seu querido primo, era realmente um excelente cronista, com qualidade informativa e estilo redacional. Um verdadeiro cantor das margens do Velho Chico. Nem avalio como, neste momento, está o ânimo do jornalista Vitor Hugo Soares, também primo dele, que o levou para figurar na página de Opinião, de A Tarde, lá pela segunda metade dos anos 2000. Que ele descanse em paz".
O mais são lágrima. é amargura, dor , a ausência (mais doloroso sentimento da morte, o não mais ouvir. falar, cantar e beber juntos, como da última vez que o vi, com Margarida, Gracinha e Lauro, em farra e conversa para não esquecer em fim de tarde na beira do Rio São Francisco. Eternamente Jânio. (Vitor Hugo Soares)
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A ÚLTIMA CRÔNICA DE JANIO FERREIRA SOARES NO BAHIA EM PAUTA E NO JORNAL A TARDE.
DEZEMBRO DE VENTOS QUE SOPRAM CRÔNICAS E MARIAS NA BEIRA DO SÃO FRANCISCO.
Domingo, 5 de dezembro no calendário : é dia de tapete vermelho neste pedaço especial do Facebook para receber mais uma brilhante e deliciosa crônica de Janio Ferreira Soares, que vem lá das margens baianas do São Francisco. E passa deslizando com suaves murmúrios, a exemplo da correnteza do rio da minha aldeia, passando quase no quintal do chalé onde eu morava na infância, na hoje submersa e cada vez mais saudosa cidade de Santo Antonio da Glória, e acordava em fases pré natalinas, como esta, cercado dos personagens que povoavam o lugar das minhas melhores recordações. Alguns deles citados nesta linda ( e comovente para este velho editor) crônica ao correr da pena de Janio. A começar pelo pai do cronista, o tenente José da Silva (maior amigo de meu pai na cidade), um dos heróis da minha meninice, de quem ouvi sob a sombra do pé de umbu cajá na frente da Cadeia Pública local, e aprendi as melhores historias de Lampião e Maria Bonita, no tempo em que se escondiam das volantes policiais no Raso da Catarina, ali bem pertinho. E o notável pernambucano, Antonio Maria - da crônica. da música e das grandes conquistas amorosas - cuja fama entrava em minha casa às primeiras horas da manhã, juntamente com os frevos de Capiba, através das ondas potentes da Rádio Jornal do Comércio, falando de Pernambuco para o mundo. Entre tantas coisas boas e felizes. que além de tudo ainda me traz a recordação de quando encontrei, pela primeira vez, na redação da faraônica sede do JB, Antonio Maria Filho (corpanzil e jeito doce, afetuoso e boêmio do pai) , que atuava na editoria de Esportes e emocionou o antigo menino sertanejo da beira do rio, então na sucursal do JB em Salvador. Aí ficamos amigos em idas e vindas da sucursal de Salvador à sede, e vice-versa do ótimo repórter, em suas viagens para coberturas em Salvador, onde o pai famoso trabalhara, no começo da carreira, na Rádio Sociedade da Bahia. Mas isto é outra história. Com a palavra Janio e os encantos desta nova crônica. Boa leitura e ótimo domingo. (Vitor Hugo Soares).
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CRÔNICA
CRÔNICAS E MARIAS TRAZIDAS PELOS VENTOS
Janio Ferreira Soares
"No meu último texto pensava em escrever sobre “Vento Vadio”, coletânea de crônicas de Antônio Maria, mas a eleição de Gil para a ABL me fez mudar de rumo. Quando é agora, minha intenção era dar um 360º bem lento - pra não derrubar o copo – e então voltar a falar da genial prosa desse gigante pernambucano de 1,80 e 120 quilos, que quando se interessava por uma garota e esta não lhe dava bolas, espertamente admitia sua feiura e aí lhe implorava 15 minutos de um papo que dificilmente chegava ao fim, pois antes de o tempo se esgotar ela já estava hipnotizada pela lábia mais famosa do Rio de Janeiro (Danuza Leão que o diga).
Acontece que antes mesmo de começar a discorrer sobre aquele que Luís Fernando Veríssimo considera nosso maior cronista, algo me dizia que quando chegasse por aqui me sentiria tentado a abrir novamente um parêntese, desses que só fecham lá nos derradeiros parágrafos. Bingo!
É que nos últimos meses, não sei se por causa da peste ou se pelo fato de que a hora é de louvar o que bem merece, alguns lançamentos estão trazendo lampejos de uma época onde, mesmo sob a ameaça da baioneta, tinha-se a sensação de que algo extraordinário rolava no breu das tocas. Prova disso é “Get Back”, excelente documentário dos Beatles - dirigido por Peter Jackson, de O Senhor dos Anéis -, que acaba de chegar na mesma onda que se ergueu no mar e trouxe em sua crista “Vento Vadio” e “Os Sabiás das Crônicas”, cujos trinados, aliás, proporcionaram a este ribeirinho a chance de conhecer uma rara flor do cerrado que vive nas savanas cariocas e, veja que coisa, também se chama Maria. Explico.
Não faz muito tempo, escrevi um texto sobre o livro dos sabiás e aí achei que sua editora, Maria Amélia Mello, poderia gostar de lê-lo. Pesquisando no Google, descobri o e-mail da faculdade onde ela leciona, arrisquei, e logo soube, de um jeito bacana, que ele havia chegado ao seu destino tão ligeiro quanto aquele Concorde que vinha do estrangeiro. Simbora!
Tarde de vento norte balançando mangas e graviolas e vejo um número de prefixo 21 piscando no visor. Mesmo correndo o risco de ouvir o famigerado: “Oi, aqui é da Claro!”, atendo, e uma maviosa voz lá das bandas da Guanabara, diz: “Janio, é Maria Amélia”. E aí, com poucos segundos de prosa, eu, que detesto papos longos ao telefone, me vi tal aquelas comadres que se sentam nas calçadas pra pôr os assuntos em dia (dom dos Marias?).
E aí ela diz que seu pai era alagoano de Quebrangulo, terra de Graciliano, e eu lhe digo que o meu era de Glória, cidade que agora jaz. Aí ela diz que meu texto melhorou seu dia, e eu digo que sua chamada foi massa demais. Aí ela me manda umas matérias de jornais com os amigos Ferreira Gullar e Rachel de Queiroz, e eu lhe mando escritos falando de filhos, de luas e de quintais. Aí, agora que o espaço acabou, enfim o parêntese aberto lá em cima deu meia-volta e, invisível que era, invisível se fechou. Beijos pros Maria
Janio Ferreira Soares, cronista, secretário de Cultura de Paulo Afonso, nas margens baianas do Rio São Francisco.
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FORMIDÁVEL JANIO, ADEUS!

4 comentários:

  1. Que bom Que Victor deu a dimensão de Janio que eu lia sempre em A Tarde, Que bom também que lembrou do Juarez, nosso amigo e mestre comum, Que bom que Dimitri valorizou

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  2. Um bondoso homem, um gentleman que não conheci pessoalmente. Um dia escrevi elogiando uma crônica e ele de imediato ne respondeu agradecendo. De outra feita, eu pretendia ir à Paulo Afonso com a minha família e lhe consultei sobre hoteis na cidade. Com presteza, ele fez sugestões para as melhores hospedagens e concluiu dizendo "ao chegar me procure".

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  3. Depois de lida uma de suas admiráveis crônicas, mandei um e-mail para Jânio lembrando que nos anos 1972/73 trabalhei em Paulo Afonso na barragem de Moxotó, cujo represamento inundou Glória, onde tínhamos acampamento. Nessa época estava ali o menino Jânio. Mais que as enchentes ou cheias e o desmatamento marginal, a caatinga e o velho Chico sentirão falta de Jânio. Paz!

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