O Congresso e o Festival de Livros da UFBA
Na semana passada, comemorando suas 75 primaveras, a UFBA, sob a batuta do reitor João Carlos Salles, realizou seu sétimo e maior congresso anual. Foram 1.150 mesas, com milhares de comunicações, 165 apresentações artísticas e 2.200 vídeos. Não obstante os enormes cortes orçamentários do desgoverno Bolsonaro, a UFBA mostrou seus músculos.
A convite do Prof. Albino Robin participei da mesa Uma nova cultura na história da UFBA. Falei no dia 7, 3ª feira, sobre O cadinho cultural da criação da UFBA. Não podemos esquecer a presença na Bahia, na época, da Petrobrás, de Anísio Teixeira, Alexandrina Ramalho da SCAB, a chegada de Verger e Carybé, a volta de Mário Cravo dos EUA, o Clube de Cinema de Walter da Silveira, as visitas do cineasta Clouzot, autor de Salário do medo, casado com a baiana Vera Amado, Albert Camus, Sartre e Simone de Beauvoir, papas do existencialismo, dialogando com os da terra. A Bahia já vivia uma revolução cultural.
Como parte do Congresso foi realizado, também, o 38ª Festival de Livros e Autores da Edufba, promovido por sua diretora, a locomotiva Profa. Flavia Goulart que puxou uma composição de 20 livros, quando as duas maiores editoras do país, a Saraiva e a Cultura, puxavam o freio de mão. Tive a honra de apresentar e comentar dois deles, no último dia 9, 5ª feira, Ufa!
O primeiro, Mundo e Lugar, é uma coleção de inéditos, capítulos, prefácios e artigos em revistas técnicas e jornais da Profa. Maria Brandão, primorosamente organizada e comentada por seus ex-alunos Ângela Franco e Paulo Fábio. A mania de perfeição e a autocensura de Maria nunca permitiram que ela mesma fizesse esse trabalho, porque queria sempre atualizar e reescrever seus artigos e o tempo se esgotou. Dei apenas um depoimento sobre o que foi minha convivência com Maria.
O segundo, Açúcar Amargo, da professora Esterzilda Berenstein de Azevedo, minha esposa falecida, reúne sua dissertação de mestrado aprovada na UFBA e publicada em S, Paulo, em 1990, mas esgotada, e sua tese de doutorado defendida na USP, inédita. Neste livro, a autora faz o resgate da arqueologia industrial e da arquitetura dos engenhos da Bahia. Não apenas na banda oriental do Recôncavo, dos engenhos reais, movidos à rotas d’água, originários do século XVI ao XVIII, como de sua expansão para a região oeste do Recôncavo, além Paraguaçu, e tabuleiros altos do norte da Baia de Todos os Santos, com novas tecnologias de produção e arranjos arquitetônicos próprios, no século XIX.
A aparente contradição do título deste livro retrata a saga de quatro séculos da agroindústria açucareira baiana, com altos e baixos, e o sacrifício de milhões de africanos escravizados e nativos do país, que deram com seu suor, sangue e vidas enorme contribuição à construção deste grande e complicado país.
SSA: A Tarde, de 12/12/2021
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