domingo, 7 de agosto de 2022

OS NENÚFARES DE MONET

 

 

Um dos grandes sonhos de Monet era "transpor o tema dos nenúfares para paredes". O pintor não se atrevera a embarcar sozinho neste projeto titânico tendo em vista o preço exorbitante e a interminável duração até que este empreendimento implicaria.



Em 1914, uma americana audaciosa foi à casa do pintor. Naquele dia Monet levantara da cama com o pé direito e dispôs-se a recebê-la, o que não era costume do cobiçado eremita, pouco abordado por admiradores. A estranha apresentou-se como uma rica amante das artes e confidenciou ao artista que soubera por um jornal do desejo ambicioso do pintor. Ela, então, lhe confidenciou que construíra um enorme salão em Los Angeles e desejava decorá-lo com dez telas do artista.

Claude Monet, maravilhado com a proposta oportuna, não poderia ter sonhado mais alto: encontrar um rico patrocinador para lhe financiar o projeto e instalá-lo em um local apropriado.
Numa tarde os dois acertaram o preço, as dimensões exatas das obras e o prazo de conclusão do projeto. Um contrato oral concluiu a entrevista e tudo levava a crer que Monet fizera um bom negócio.


O artista, levado pelo entusiasmo do incrível projeto, encomendou telas, feitas sob medida, e pincéis personalizados. Durante o verão de 1915, construiu novo ateliê em Giverny, grande o suficiente para acomodar os enormes painéis. O prédio foi equipado com iluminação especial para sublimar a conclusão luminosa das obras.


Um dia, um jornal nova-iorquino, revelou a triste verdade: a americana era de fato uma jornalista que usou a estratégia para abordar o famoso pintor, gabar-se de ter falado com ele e de tê-lo fotografado na privacidade do seu jardim. A jornalista usou todo o charme para mexer com a ambição pessoal de Monet.


Não totalmente desanimado com a imensa decepção, o pintor, que já realizara quatro Nenúfares pensando na encomenda, decidiu continuar o projeto apesar de tudo. Um desejo artístico venceu a decepção humana. Pintou as últimas quatro telas, determinado, mas sem dar um pio sobre a falsa encomenda que dera início à série.


No entanto, o ardor artístico não foi suficiente para lhe ofuscar o orgulho ferido, a melancolia e, sobretudo, a vergonha de ter sido tão enganado. Foi então que o velho e fiel amigo Georges Clemenceau interveio e começou uma história bem mais conhecida: a da obtenção pelo Estado, por iniciativa do Tigre e após o armistício de 1918, dos grandes painéis pintados pelo mestre do Impressionismo




Esta é uma história quase desconhecida, relatada por Sacha Guitry. Sempre perto de Claude Monet, embora com idade para ser seu filho, fazia parte do restrito grupo de amigos íntimos de Claude Monet, ao lado de Octave Mirbeau e Georges Clemenceau.
Retrato de Claude Monet, em 1899. Coleção particular, Gaspard-Félix Nadar.

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