segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

O SENHOR SATIE

 O estranho e fabuloso caso do senhor Satie·        


José Carlos Fernandes

 

Erik Satie nasceu há 150 anos e não faltam edições e reedições discográficas que passam em revista a obra de uma das mais excêntricas personagens da história da música.

11 set. 2016, 22:446

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·   Quando, após a morte de Erik Satie, a 1 de Julho de 1925, os amigos entraram no minúsculo apartamento de uma divisão, sem água nem electricidade, em que o músico habitara durante os últimos 27 anos de vida, no n.º 34 da Rue Cauchy, em Arcueil, um subúrbio operário de Paris, e que ele nunca franqueara ao seu círculo de conhecimentos, depararam-se com um cenário ao mesmo tempo deprimente e fantástico: deprimente porque revelava as condições de penúria em que o compositor vivera, fantástico porque espelhava o seu espírito excêntrico e zombeteiro.

Erik Satie por Suzanne Valadon, 1893

No apartamento, onde reinava a maior desordem, encontrou-se uma colecção de guarda-chuvas, com mais de uma centena de peças, outra de lenços, com 84 exemplares, outra ainda de colarinhos de camisa, bem como vários fatos de veludo cinzentos, todos iguais, ainda por estrear – Satie não gostava de perder tempo a decidir que roupa iria usar, pelo que comprara de uma só vez uma dúzia de fatos, usando um de cada vez até ele ficar puído (paradoxalmente, foi, a crer nas suas palavras, assinante de uma revista de moda). Havia também desenhos de edifícios medievais, centenas de estreitas tiras de papel com anotações enigmáticas como “O meu nome é Erik Satie, tal como todas as outra pessoas” e numerosas partituras inéditas, incluindo algumas que o próprio compositor julgava ter perdido, como seja o caso de Jack in the Box e da ópera Geneviève de Brabant.

[Gymnopédie n.º1, por Aldo Ciccolini]


Mas o achado mais extraordinário do apartamento de Arcueil foram dois pianos desafinados e amarrados por cordas, um deles empilhado sobre o outro e funcionando como armário para cartas e pacotes (talvez os pianos não tenham tido muito uso mesmo quando estavam funcionais, pois Satie preferia compor à mesa do café). Entre a correspondência, contavam-se muitas cartas por abrir e resmas de cartas que escrevera à pintora Suzanne Valadon (1865-1938), com quem tivera um caso amoroso, em 1893, mas que nunca chegara a enviar. Valadon, que fora modelo de Renoir e Toulouse-Lautrec e que em 1894 se tornou na primeira mulher a ser admitida na Sociedade Nacional de Belas-Artes, é a única relação sentimental conhecida do compositor, que a terá pedido em casamento após a primeira noite que passaram juntos. Quando Valadon pôs termo à relação, cinco meses depois, Satie escreveu que a ruptura com Valadon o deixara “inundado por uma solidão glacial que enche a cabeça de vazio e o coração de tristeza”.

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