sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

SOBRE HUMOR

SÉRGIO SOBREIRA

Resultado de imagem para DAUMIER COM POLITICOS

Uma conversa com Jussilene Santana esses dias ficou ressoando em mim profundamente. Mauricio Tavares, por ter estudado muito sobre humor pode ajudar nesse debate. A questão é delimitar até onde se deve ir com o “fazer piada” das coisas, sobretudo as mais sérias.
Numa eleição em que os memes deram a tônica das narrativas de campanha, me pergunto se não termina sendo demasiado escapista reduzir questões que as vezes são sérias, complexas, problemáticas a algo engraçado ou risível.
Ao fazer graça desopilamos, esvaziamos a tensão, abstraímos a gravidade de algo que parece difícil digerir, assimilar, enfrentar. Por outro lado, não seria esse jeitinho brasileiro uma forma de procrastinar nossa real responsabilidade com as coisas, nosso compromisso tão necessário em se tornar parte do problema e da solução???
Acabo de receber em grupo de WhatsApp a imagem de um bonitão com o meme de que seria o novo médium de Abadiânia, portanto as pessoas já podem marcar excursões para lá porque o abuso vai valer a pena (sic). Antes, vi a mesma imagem postada por uma figura pública, militante dos direitos humanos que atua exatamente na defesa de oprimidos.
Senti um enorme desconforto com a falta de empatia. Ninguém percebe a violência que vitimou centenas de mulheres, em situação de desamparo emocional, sendo molestadas por um homem asqueroso, que usava sua posição ascendente de líder espiritual para abusar delas??????
Eu mesmo já compartilhei dezenas de textos e imagens que traziam para a esfera da bobice coisas que são sérias, graves, dolorosas. Sei que o humor traz a esperança do alívio, mas não sei até onde podemos ir. Apenas sinto que precisamos achar um ponto de equilíbrio entre ter senso de humor e ter senso de responsabilidade. O Brasil precisa sair dessa adolescência emocional retardada. Qual a métrica? Não faço ideia mas Frejat já estabeleceu na música que “rir de tudo é desespero".

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