quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

A ARTE DO DESCASO

.... Me digam ! AONDE ESSA GENTE FAZ MESTRADO E DOUTORADO EM DESCASO ?

Texto alt automático indisponível.    Era uma sexta-feira de Carnaval de 2006 quando quatro homens entraram no Museu da Chácara do Céu, sediado no Rio de Janeiro. De lá, eles saíram com cinco obras de arte roubadas. Eram elas uma pintura de Claude Monet, um quadro de Salvador Dalí, um óleo de Henri Matisse e dois trabalhos de Pablo Picasso.
O conjunto, estimado, na época, em mais de US$ 10 milhões, foi arrancado de paredes e suportes do espaço enquanto os funcionários da casa, um taxista e um grupo de visitantes – composto por um casal de neozelandeses e duas australianas – eram feitos reféns. Até hoje, o caso permanece em aberto, já que as peças não foram recuperadas nem os criminosos identificados.

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Mas, em 2011, quando o maior saque a um museu do Brasil, de acordo com uma avaliação do FBI, completou cinco anos, a jornalista Cristina Tardáguila iniciou uma pesquisa responsável por trazer essa história novamente à tona. Resulta dessa iniciativa o livro “A Arte do Descaso” que foi lançado com o intuito de evitar a acomodação do fato em profundo esquecimento.
“Ainda no ranking do FBI, esse roubo está entre os dez maiores do mundo, e quando me deparava com essa constatação e com a falta de esforço para reverter isso, eu achava tudo um absurdo e sentia um grande aborrecimento. Foi isso que me motivou a ir atrás dessa história”, conta Tardáguila.
Ela começou, então, a reunir informações sobre o assunto e procurou entender a visão da Justiça, o que a conduziu a se debruçar sobre um inquérito com mais de 700 páginas. Aos poucos, a autora percebeu a existência de uma trama complexa, permeada por uma investigação cheia de “buracos”. Isso dificultou o projeto de buscar soluções para essa situação, mas, para ela, representava também um estímulo maior.
“Eu comecei a fazer o livro no ímpeto de achar os quadros e os ladrões. Tinha a certeza que ia dar uma de detetive e ia bombar. Fui atrás de pistas, de pessoas com quem poderia falar. Porém, ao analisar o inquérito, eu me dei conta de que seria impossível para uma jornalista seguir adiante com a investigação porque havia obstáculos que eu não conseguiria superar. Somente a polícia, por exemplo, poderia, com um mandado, ir até a casa de alguém e se certificar de algumas suspeitas”, observa Tardáguila.
Se o título não se tornou o thriller policial com o qual ela sonhava, a mineira, radicada na capital carioca, no entanto, identifica nele uma espécie de manifesto. “Já que eu não conseguiria fazer o trabalho que era o dever dessas instituições, resolvi, com o meu livro, dar um puxão de orelha nas diversas camadas sociais e nas categorias profissionais que se envolveram com o caso, para ver se dava uma chacoalhada no rumo dessa investigação”, completa.

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Para alcançar seu objetivo Tardáguila ouviu conselhos e ensinamentos de mestres. Em 2013, viajou para a Itália, onde participou de uma conferência internacional sobre roubo de arte promovido pela Association for Research into Crimes Against Art (Arca). Lá, conheceu especialistas, como o norte-americano Noah Charney, autor de “Os Roubos de Mona Lisa”. Foi ele, inclusive, que a fez comparar o acontecimento na Chácara do Céu com outro semelhante, registrado na Isabella Stewart Gardner Museum, em 1990, nos Estados Unidos. Naquela instituição, foram extraviadas, na véspera do feriado de Saint Patrick, obras relevantes, como três pinturas de Rembrandt e uma de Johannes Vermeer.
Porém, enquanto estudava e exercitava a reconstrução do cenário do crime, ela percebia que as informações não se conectavam. De volta ao Brasil, em 2014, Tardáguila retomou a apuração e, dessa vez, vasculhou os arquivos das publicações do país, a fim de encontrar mais dados sobre a Chácara do Céu.
A busca trouxe uma notícia de 1989, intitulada “Política do Descaso”, que relatava o roubo de obras e pratarias no museu. O espanto foi maior ao perceber que, dentre as cinco criações desaparecidas em 2006, duas já haviam sido roubadas em 1989: as obras de Matisse e Dalí.

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“Quando achei isso, eu quase passei mal e pensei: caramba, como no inquérito de 2006 não há nenhuma citação do roubo anterior? Esse era um dado importantíssimo que não estava lá, e foi a partir dessa descoberta que a minha editora me convenceu a escrever o livro em primeira pessoa. Naquele momento, ela me alertou que eu havia dado um passo à frente na polícia e no Ministério Público”, diz.
Com posse desse e de outros materiais, como o diálogo com o advogado que havia sido preso em razão do seu envolvimento no caso de 1989, a jornalista reencontrou o procurador Fernando José Aguiar de Oliveira, que, em seguida, determinou diligências a serem cumpridas pela Polícia Federal.
“Dali em diante, a minha apuração de jornalista passou a pautar o trabalho do Ministério Público e da PF”, sublinha.

Por Antonio Francisco 

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