Em 3 de julho de 2020 caí da rede. Fêmur quebrado. Às 8h00 da manhã do dia seguinte fui operado num hospital do centro da capital. Mal. O erro só seria constatado após anos de anti-inflamatórios.
Durante anos,
com dor a cada passo no joelho e arredores, andei coxeando de consultório em
consultório, sempre a léguas de minha residência, mofando durante horas nas
salas de espera. Como é sabido, médicos não dão a mínima importância ao tempo
dos pacientes. O primeiro ortopedista consultado, recém diplomado metido a
playboy, acompanhado de uma bela estagiária de cabelo esticado que parecia
monopolizar todas suas atenções, contentou-se, apressado, em receitar
comprimidos contra a dor e injeções em caso de emergência. Mero paliativo.
O segundo
foi aquele mesmo cirurgião que me tinha operado. Ordenou uns remédios
recém-lançados no mercado, talvez por sugestão da representante que acabara de
sair do consultório antes de eu entrar. Foi uma dificuldade para encontrar o
caríssimo produto. Farmácia nenhuma conhecia. Igual a copo d´água sem gás, não
produziu o milagre esperado. Teimoso e ingénuo, voltei ao mesmo doutô. Desta
vez me aconselhou umas cápsulas rosas bonitinhas e um pozinho de pirlimpimpim
que passaram na minha vida como uma nuvem. Ficou em manter o contato pelo zap.
Se esqueceu de mim. Mandei uma última mensagem “Muito obrigado, Dr. X”. Nem
respondeu.
Terceiro
médico. Um jovem quarentão, daqueles que confundem a coluna da July com Hipócrates.
Plantonista uma manhã por semana em outro hospital. No bolso do jaleco, sob seu
nome elegantemente bordado, a informação “Especialista do joelho”. Declarou que
a única solução seria uma infiltração de Reviscon. Porque não ia a seu
consultório, lá nos bairros novos a caminho do aeroporto? Seria muito bem
atendido.
Fui. Paguei
uma nota para ir de uber, outra para voltar. A infiltração me custou um
salário. Mas o alívio não valeria todo e qualquer sacrifício financeiro?
Durante seis meses ia poder treinar para qualquer triátlon. O octogenário Fausto
voltando a adolescência. No dia seguinte, a dor tinha retornado a seu habitat
favorito. Deprimido, mandei zap ao médico. Não respondeu. Restou-me a
inigualável satisfação de ter contribuído para os gastos do imponente
consultório num dos edifícios mais cafonas desta cidade sem planejamento.
Se o leitor
nasceu na primeira metade do século passado, talvez tenha sido tratado por
médicos da velha guarda. Que olhavam para você nos olhos, conversavam
longamente, estabelecendo um elo, quase uma cumplicidade. Me lembro do Dr.
Newton Guimarães, emérito dermatologista no Canela. Do odontólogo Dr. Walter
Lacerda, na Rua Chile. Entrar no consultório era como reencontrar um velho e
competente amigo...
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