quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

CAMAROTE SALVADOR

Jorge Alberto

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Críticas a esse modelo elitista de carnaval e à ocupação equivocada e inadequada de espaço público à parte, o camarote Salvador mais uma vez dá um show de arte visual. Como artista plástico e cenógrafo, não posso encarnar apenas o cidadão indignado e deixar de observar isso. É impressionante como conseguem fazer o simples ser tão espetacular.

Mas voltando ao cidadão atento e indignado que permanece vivo em mim, eu aproveito pra falar de mais uma falácia do poder público. O marketing no discurso de nosso prefeito adora chavões como "festa inclusiva" e "oportunidade pra todo mundo". Ora, quem vem se refestelando há muitos anos com a democracia inclusiva geradora de oportunidades do carnaval de SALVADOR é o estado de SÃO PAULO. Mais da metade da produção de nosso carnaval, especialmente a dos camarotes de luxo e até blocos está nas mãos de empresas de São Paulo. E os caras fazem questão de trazer tudo de lá. 

Conheço renomados locadores de móveis, por exemplo, que tinham o carnaval como carro chefe do ano e hoje não conseguem alugar um banquinho sequer. Culpa dos paulistanos? Claro que não. Incompetência nossa em produzir? Também obviamente não. O problema é que a burrice estatal baiana fala que o carnaval é uma indústria, mas não faz o menor esforço pra tirar essa retórica do discurso, da propaganda e do papel. 

Primeiro, a infraestrutura soteropolitana é paupérrima. O comércio de Salvador é pobre em opções, pobre em atendimento. Como algo tão potencialmente lucrativo, era preciso haver dispositivos como redução fiscal pra que o custo de produção local fosse competitivo. Não é admissível que um sofá que viaje de Sampa até aqui tenha um custo menor do que um que é locado aqui mesmo. 

A geração de emprego, oportunidade e renda não podia de forma alguma se restringir a uma legião de "dalits" que reforçam a imagem clara de sistema de castas que o nosso "popular" carnaval passa. Arquitetos, decoradores, artistas plásticos, montadores de estruturas, empresas de locação, produtores e profissionais de diversas áreas ligadas à produção de carnaval, daqui da terrinha também merecem uma parte desse "latifúndio" e deveriam ter prioridade. 


P.S. Antes de me falarem dos livros que já leram, de citar o que diz o ilustre fulano de tal sobre isso e de me encher a paciência com essa brincadeira chata de "é de esquerda/é de direita, entendam: essa é MINHA OPINIÃO LIVRE. 


Obrigado. De nada.

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