OS USOS DO PASSADO NO CORTEJO
DOS QUATRO SÉCULOS DE SALVADOR
(BAHIA, 1949)
Alan Santos Passos1
EM 1949 a Cidade de Salvador comemorou seus quatrocentos anos de fundação. Dentre os diversos eventos que foram programados para celebrá-los destaca-se a encenação cívica e pública do passado baiano. Montado em forma de cortejo, o desfile foi idealizado pelo então prefeito José Wanderley de Araújo Pinho, que se inspirou no “grande cortejo” do VIII Centenário da Tomada de Lisboa aos Mouros, comemoração salazarista encenada em Portugal em 1947.2
Nada no cortejo soteropolitano foi feito de forma aleatória, muito menos arbitrária. Tanto a escolha dos eventos a serem rememorados quanto o trajeto percorrido foram muito bem pensados e discutidos. Ambos foram debatidos e aprovados por historiadores em sessão no IGHB presidida por Wanderley Pinho em fevereiro de 1949. Ficou acertado que seriam apresentadas “todas as figuras mais representativas da história da Bahia, desde a fundação”, tais como Tomé de Souza, bispo D. Marcos Teixeira, Visconde de Pirajá, Castro Alves, Maria Quitéria etc.3 Também ficou combinado que o cortejo sairia de um ponto a outro da cidade alta, repisando o antigo caminho do Conselho. A partida sairia da praça da Igreja da Vitória, na tarde de 29 de março, percorreria a Avenida Sete de Setembro, a Praça Castro Alves, a Rua Chile, a Praça Municipal, até a Praça da Sé, onde se dissolveria.4 Ainda que a cidade baixa tenha ficado de fora, utilizou-se para palco boa parte do sítio histórico relacionado ao passado quadricentenário dos soteropolitanos. Para organizar o desfile, a Prefeitura contratou o dramaturgo e cineasta português Eduardo Chianca de Garcia, que trazia no currículo a colaboração com Leitão de Barros na direção artística da produção do inspirador precedente português de 1947.5
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