ACABAR COM A INDÚSTRIA DA SECA NO NORDESTE
Fato 1: depois de um período com chuvas abaixo da média, os sistemas de abastecimento de água das cidades nordestinas entraram em colapso por conta daquela considerada a maior seca dos últimos 50 anos na região; a estimativa é que cerca de 10,4 milhões de pessoas sofrem por conta da estiagem prolongada em 1.367 municípios, dos quais pelo menos 55 estão em colapso total e não têm mais água nas torneiras, necessitando ser abastecidos por carros-pipa ou outros meios emergenciais.
Fato 2: o jornalista Gilberto Dimenstein, em seu livro O Cidadão de Papel, ressalta que técnicas apropriadas a este tipo de situação são conhecidas há séculos. Na Espanha, ainda funcionam sistemas de irrigação construídos pelos árabes, e muito antes disso os egípcios já usavam as águas do rio Nilo para suas lavouras. No Brasil apenas um milhão de hectares são irrigados, enquanto no Chile, país cuja área é menos de 10% da brasileira, há 1,2 milhão de hectares irrigados. Agora vamos falar de coisa séria: na Índia, a irrigação atinge 40 milhões de hectares, e na China, 50 milhões de hectares.
Fato 3: estudos demonstram que, no Nordeste brasileiro, pelo menos oito milhões de hectares poderiam ser irrigados. Essa área corresponde ao dobro da área irrigada na Califórnia, um dos celeiros de alimentos do mundo.
Fato 4: segundo matéria da Uol, a seca severa que atinge o Nordeste causou prejuízo de mais de R$ 100 bilhões entre 2013 a 2015. O levantamento foi feito pela Confederação Nacional dos Municípios, usando dados do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres.
Fato 5: a transposição das águas do rio São Francisco, iniciada em 2007 e originalmente prevista para conclusão em 2012, encontra-se, até o momento, com cerca de 90% de suas obras finalizadas, e o início de sua operação, segundo a Agência Nacional de Águas, foi prorrogado para março de 2018. Já foram gastos cerca de R$ 8,37 bilhões, e ainda pairam muitos questionamentos sobre sua real efetividade, além de diversas questões ambientais envolvidas.
É preciso dizer alguma coisa mais? É, sim: interessa a muita gente manter esse estado de coisas. Em outubro de 1909 foi criada uma autarquia federal chamada Inspetoria de Obras Contra as Secas (cuja denominação foi alterada em 1945 para Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) com a finalidade de executar políticas visando beneficiar áreas e executar obras de proteção contra as secas e inundações, além de preocupar-se com o saneamento básico e a assistência às populações atingidas por calamidades públicas.
Sempre foi um dos grandes instrumentos de cabide de empregos e eleitorais, na medida em que ser beneficiado pelas suas ações é apresentado quase como um favor, em troca do qual se espera a eleição do político que as conseguiram.
É muito irritante pensar que, passados mais de 100 anos, pouca coisa tenha sido efetivamente alterada para resolver os graves problemas de água na região.
os nosso políticos nos envergonham, nos roubam e mantêm cativo o voto dos menos favorecidos e menos informados. Lamentável
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