domingo, 10 de janeiro de 2021

A ÁRVORE

Lembro-me de uma dessas coisas: eu estava vindo da escola que ficava a um quilômetro e meio de minha casa, e no meio do caminho havia uma enorme árvore. Eu passava por ela pelo menos quatro vezes por dia: ao ir à escola, ao meio dia para ir a minha casa almoçar, depois ao voltar para a escola, e finalmente ao voltar para casa. Passei por aquela árvore milhares de vezes, mas naquele dia algo aconteceu.

Era um dia quente, e, quando me aproximei da árvore estava tão fresco que sem ter nenhum pensamento deliberado parei por um tempo sem saber o motivo. Simplesmente me aproximei do tronco da árvore e sentei-me ali. Não posso explicar o que aconteceu, mas me senti extremamente feliz, como se algo estivesse ocorrendo entre mim e a árvore. Apenas o frescor não podia ser a causa, porque muitas vezes passei suando pelo frescor da árvore. Eu também parei antes, mas nunca antes toquei a árvore ou me sentei ali, como que encontrando um velho amigo.

Aquele momento permaneceu brilhando como estrela. Muitas coisas aconteceram em minha vida, mas não percebo aquele momento se reduzir; ele ainda está presente. Sempre que olho para trás, ele ainda está presente. Naquele dia eu não estava claramente ciente do que aconteceu, e nem hoje posso dizer que estou, mas algo aconteceu. E a partir daquele dia, houve uma certa relação minha com a árvore, a qual nunca senti antes, nem mesmo com algum ser humano. Tornei-me mais íntimo daquela árvore do que de qualquer outra pessoa do mundo. Passou a ser uma rotina para mim: sempre que passava pela árvore, eu me sentava por alguns segundos ou por alguns minutos e sentia a árvore. Ainda posso percebe-la; algo continuou crescendo em nós…

No dia em que deixei a escola e me mudei para outra cidade, para frequentar a universidade, despedi-me de meu pai, de minha mãe, de meus tios e de toda a minha família, sem chorar. Nunca fui do tipo que chora com felicidade. Mas naquele mesmo dia ao me despedir da árvore, eu chorei. Isso continua sendo uma lembrança muito vívida… E, quando eu estava chorando, tive a certeza absoluta de que também havia lágrimas nos olhos da árvore, embora não pudesse ver os olhos da árvore e não pudesse ver as lágrimas. Mas eu podia sentir; quando toquei a árvore, pude perceber a tristeza e pude perceber a benção, a despedida.

E aquele era certamente meu último encontro, pois, quando voltei após um ano, por alguma razão estúpida a árvore tinha sido cortada e removida.

A razão estúpida foi que construíram uma pequena pilastra memorial, e aquele era o local mais belo no meio da cidade. O memorial era para um idiota rico o bastante para ganhar todas as eleições de que participou e se tornar o presidente da Câmara Municipal. Ele foi presidente por pelo menos 35 anos, o tempo mais longo que alguém ficou naquele mesmo cargo. Todos estavam felizes com a sua presidência, pois ele era um tamanho idiota que qualquer um podia fazer o que quisesse sem que ele interferisse. Uma pessoa podia fazer sua casa no meio da rua, ele não se importava; ela apenas tinha de votar nele.

(Osho) (Trecho do livro ”Alegria”)

Nenhum comentário:

Postar um comentário