Ricardo Soares*
Internauta publica resposta a general Mourão
O dia que eu entender a lógica das redes sociais pego meu surrado boné e me recolho, não participo mais dessa orgia de informações de más e boas procedências. A questão é que muitas vezes não consigo entender os motivos de uma foto ou um conteúdo viralizar especialmente quando não é turbinado com os incentivos monetários que qualquer rede oferece. Há fatos, fotos e relatos que eu sempre considerei que deveriam, digamos, "viralizar" mas fica ali, na miúda. E há uma enxurrada de tolices que deveriam ficar no ostracismo, mas acontecem.
Isso posto, venho, pois, falar de um conteúdo que se espalhou por aí de forma justa e só ontem descobri ter sido escrito por uma talentosa amiga virtual com quem troco impressões há algum tempo. O nome dela é Rosane Angelo, mora em Goiânia e não ficou claro pra mim se é ou não jornalista. Só sei que fez há tempos atrás um texto esculachando essa figura deplorável que é o general Mourão, que fala tantas ou mais tolices que seu líder, o lamentável Bozonazi. O esculacho se deveu à declaração do parvo vice que disse que "tem gente nas Universidades Federais que não devolve nada ao país". Então a amiga Rosane Angelo respondeu de forma impecável com o texto que publico trechos aqui. Começa dizendo:
"Mourão, eu quero saber o que as forças armadas devolvem pro Brasil? São 400 mil vestidos de azeitona que custam aos cofres públicos mais de 65 bilhões ao ano. Vocês defendem o quê? Vocês entregaram nossa base de Alcântara, a Embraer, querem entregar o pré-sal. O Bolsonaro transformou o governo num cabide de emprego pra vocês. O Estado mínimo é só para os pobres, pra vocês o estado é máximo. Vocês foram premiados na reforma da previdência, vocês já tiveram depois disso milhares de reajustes e penduricalhos, o Bolsonaro está transformando vocês numa casta de milionários. Vocês servem pra quê? Pra matar mosquito da dengue?".
O relato dela segue numa contundência elegante levando em conta a infeliz declaração do Mourão. Fico pensando na mente estranha de muitos generais (alguns estavam adornados com pijamas antes do Bozo) e dos malabarismos retóricos que usam pra tentar defender o indefensável. Pra que serve um exército (mesmo que sucateado como o nosso) em tempos de paz? Essa observação se reforça inclusive com visões a olho nu da "utilidade" do nosso exército. Recentemente fiquei num hotel em Cuiabá bem perto de um enorme quartel dos milicos e o que via eles fazendo todos os dias além de corridinhas e um pouco de educação física? absolutamente nada. Uma porção de rapagões come-dorme que ficam ouvindo gritos e humilhações de sargentos pançudos e recalcados que martelam aquela manjada ladainha de "Deus, pátria e família". Se essa é uma visão caricatural, perdão. Mas é o que vemos. Os soldadinhos pouco ou nada ajudam a melhorar o país em que pesem algumas obras e atividades das brigadas de selva na Amazônia.
Como a Rosane, deploro o Exército Brasileiro e não embarco na narrativa de passar pano para uma instituição que foi cumplice e voz ativa na ditadura de 1964 a 1985. Teriam que fazer muito mais pra limpar a imagem. Mas não fazem. Só pioram como podemos ver com esses generais fanfarrões do desgoverno. Por exemplo, o que dizer do homem forte de Bozo, o general Gagáleno? Completamente fora do tempo e espaço, vivendo uma realidade paralela onde a guerra fria ainda existe.
O tema proposto pela Rosane ao responder a Mourão é da maior atualidade e devia ser mais discutido. Como ela bem diz, falando do Exército, "vocês não têm mais utilidade, o Brasil preservou suas fronteiras há décadas sem forças armadas, se o Brasil entrar numa guerra, não têm munição pra mais de uma hora". O que parece é um exército de bravateiros extemporâneos, gente alienada do país real e mais uma vez cumplice de atos selvagens perpetrados por um governo péssimo que eles ajudaram a eleger. E, não custa lembrar, Bozonazi é egresso do Exército mesmo que dele tenha sido expulso. Para vocês verem. Um corpo carcomido como o do nosso Exército expurga uma lesma ainda pior.
Além das críticas a Rosane dá sugestões para essa "força" carcomida : "Vamos acabar com as forças armadas, desmilitarizar a polícia, e vamos instituir polícias florestais, de fronteiras, polícias cidadãs, pra servir o povo. As guerras hoje são totalmente diferentes(...). Em um mundo assim é preciso investir em inteligência e tecnologia, e não mais em forças armadas. Forças armadas num país que não vai entrar em guerra só serve pra eles ficarem se coçando".
E, pior, se coçam às nossas custas como se vê nessa lista vazada de leites condensados e chicletes que teriam como destino também os quartéis. E ainda recorrendo ao texto da Rosane: "E quero que saibas Mourão, que as verbas inúteis que gastamos com vocês, vamos investir tudo em educação". Sim Rosane, mas só vamos se um dia essa obscura e ignara malta voltar aos defasados exercícios de educação física que sempre fizeram ao invés de ficarem ocupando postos para os quais não tem a menor competência como vemos esse general de caricatura no ministério da Saúde.
Por fim sem conseguir ser sútil ou elegante com o "vestidos de azeitona", faço minhas as palavras finais do texto da própria Rosane: "Caiam fora, seus inúteis!".
*Ricardo Soares é escritor , jornalista e documentarista.
Publicou 9 livros, dirigiu 12 documentários
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