Tinha prometido ao meu computador não escrever mais uma só linha sobre o assunto até a obra acabar. Mas como a dita promete bater o recorde tricentenário da lisboeta igreja de Santa Engrácia e que minha vida talvez será mais curta, sou obrigado a quebrar a promessa. Tentei apelar para Santo Expedito o militar que trata das causas urgentes. Em vão.
O calvário da comunidade do bairro de Santo Antônio começou
antes do carnaval de 2020 quando o maquinário para lá de barulhento iniciou a
quebradeira da Ladeira de Nossa-Senhora do Boqueirão, arrancando pouco mais de
cem metros da calçada. Até hoje a ladeira continua inacabada. Em vez daquela sino-megalômana
ponte sem nome, São Pedro Wu e os 119 outros mártires chineses resolveriam o
problema num vapt-vupt.
O cineasta Cláudio Marques pormenorizou em outro diário o que
foram estes dez meses de coronavírus, dengue e chikungunya embalados em lama,
poeira, barulheira, roubos e constrangedor amadorismo.
Quantos idosos como eu começaram a ter problemas
respiratórios e coriza? Quantas casas estiveram repetidamente sem água? Na minha, a travessia do deserto durou uns
bons quinze dias. E nenhum Moises à vista. A Embasa (outra estatal afogada em
incompetência) veio consertar oito vezes minha tubulação! Estou apelando para Santo
Amaro das Águas desde fevereiro.
A Conder contratou a Pejota que terceirizou para uma empresa
sem logotipo. Os operários chegam às 7 horas da manhã, embora o início do
trabalho varie. Um dia pegam no batente às 7:30, outro dia às 8:20, ou às 7:55.
Tentar uma explicação junto aos peões é difícil. Resquício da escravidão. Mas por meias-palavras, entendo que depende da
chegada “dos home”. Que devem ter dificuldade em sair da cama. Em pleno verão,
os trabalhadores não têm água para matar a sede nem sanitário. Resquício da
escravidão.
Da vizinha igreja dos Quinze Mistérios, um deles é o
planejamento. No momento em que estou escrevendo duas equipes estão calçando a
rua entre a igreja do Boqueirão e a Cruz do Pascoal. O trecho da igreja até o
Largo de Santo Antônio, iniciado em novembro, foi abandonado. As antigas pedras
pesavam aproximadamente 8kg. As novas, 5kg. Ou seja: menores e mais leves. Espaços
sendo preenchidos com concreto liquido (sic). Qual será a durabilidade?
Fora os históricos bajuladores, a queixa é geral e irrestrita
no bairro. As altas esferas ainda se comportam como Luís XIV. L´État, c´est
moi. O drama é que aqui e agora o que estão fazendo não é nenhum Versalhes. É
óbvio que os “responsáveis” não amadureceram qualquer conceito. Tudo feito ao
léu, nas coxas. Quanto ao problema da escadaria da igreja do Boqueirão – um
belo abacaxi - só mesmo rezando para Nossa-Senhora Desatadora dos Nós.
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