sábado, 23 de janeiro de 2021

REZAR A DERRADEIRA SOLUÇÃO

 Tinha prometido ao meu computador não escrever mais uma só linha sobre o assunto até a obra acabar. Mas como a dita promete bater o recorde tricentenário da lisboeta igreja de Santa Engrácia e que minha vida talvez será mais curta, sou obrigado a quebrar a promessa. Tentei apelar para Santo Expedito o militar que trata das causas urgentes. Em vão.



O calvário da comunidade do bairro de Santo Antônio começou antes do carnaval de 2020 quando o maquinário para lá de barulhento iniciou a quebradeira da Ladeira de Nossa-Senhora do Boqueirão, arrancando pouco mais de cem metros da calçada. Até hoje a ladeira continua inacabada. Em vez daquela sino-megalômana ponte sem nome, São Pedro Wu e os 119 outros mártires chineses resolveriam o problema num vapt-vupt.

O cineasta Cláudio Marques pormenorizou em outro diário o que foram estes dez meses de coronavírus, dengue e chikungunya embalados em lama, poeira, barulheira, roubos e constrangedor amadorismo.

Quantos idosos como eu começaram a ter problemas respiratórios e coriza? Quantas casas estiveram repetidamente sem água?  Na minha, a travessia do deserto durou uns bons quinze dias. E nenhum Moises à vista. A Embasa (outra estatal afogada em incompetência) veio consertar oito vezes minha tubulação! Estou apelando para Santo Amaro das Águas desde fevereiro.

A Conder contratou a Pejota que terceirizou para uma empresa sem logotipo. Os operários chegam às 7 horas da manhã, embora o início do trabalho varie. Um dia pegam no batente às 7:30, outro dia às 8:20, ou às 7:55. Tentar uma explicação junto aos peões é difícil. Resquício da escravidão.  Mas por meias-palavras, entendo que depende da chegada “dos home”. Que devem ter dificuldade em sair da cama. Em pleno verão, os trabalhadores não têm água para matar a sede nem sanitário. Resquício da escravidão.

Da vizinha igreja dos Quinze Mistérios, um deles é o planejamento. No momento em que estou escrevendo duas equipes estão calçando a rua entre a igreja do Boqueirão e a Cruz do Pascoal. O trecho da igreja até o Largo de Santo Antônio, iniciado em novembro, foi abandonado. As antigas pedras pesavam aproximadamente 8kg. As novas, 5kg. Ou seja: menores e mais leves. Espaços sendo preenchidos com concreto liquido (sic). Qual será a durabilidade?

Fora os históricos bajuladores, a queixa é geral e irrestrita no bairro. As altas esferas ainda se comportam como Luís XIV. L´État, c´est moi. O drama é que aqui e agora o que estão fazendo não é nenhum Versalhes. É óbvio que os “responsáveis” não amadureceram qualquer conceito. Tudo feito ao léu, nas coxas. Quanto ao problema da escadaria da igreja do Boqueirão – um belo abacaxi - só mesmo rezando para Nossa-Senhora Desatadora dos Nós.

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