, com praias de areia branca, piscinas naturais, manguezais preservados, coqueirais e
tranquilidade. O distrito faz parte do município de Ipojuca, a 50 km da capital, Recife, e,
sobretudo na última década, atraiu a voragem da especulação imobiliária e do turismo
predatório que ameaçam acabar com o que sobrou de áreas protegidas na região.
Agora, os incêndios provocados são a principal arma de devastação, como aconteceu
no Pantanal e na Amazônia neste ano.
Segundo a Ong Salve Maracaípe, os incêndios se tornaram tão frequentes que nos
últimos meses houve dias em que Porto de Galinhas ficou coberto pela fumaça.
“O fogo derruba as árvores, mata os animais e, na prática, libera essas áreas para
a especulação imobiliária. Como a área perde o seu valor ambiental, quem quiser
construir não precisa das licenças dos órgãos ambientais. O que está acontecendo
aqui pode ser comparado a um faroeste. Virou uma terra sem lei”, explica Daniel Galvão,
coordenador da ong. “Até um tempo atrás, aqui era um lugar de sonho, com casas e
pousadas
charmosas. Isso acabou”, lamenta.
As extensas áreas de restingas, manguezais e Mata Atlântica das praias de Ipojuca estão
no centro de uma cadeia de ilegalidades que começa muito antes das queimadas.
Boa parte dessas terras foi ocupada de maneira duvidosa há muitos anos e vem sendo
vendida para grandes grupos imobiliários para a construção de hoteis de luxo, complexos
turísticos, mansões e, mais recentemente, edifícios em locais que eram vilas de
pescadores. Os empreendimentos afirmam ter as escrituras. Mas as construções
desrespeitam toda a legislação de proteção à Mata Atlântica, aos manguezais e às
restingas.
Outro motivo dos incêndios, segundo a ong, é a prática de tocar fogo nos manguezais
para a coleta do guaiamum, uma espécie de caranguejo, ameaçada de extinção.
Com o fogo, o animal sai das “locas” (buracos) e pode ser capturado facilmente.
O problema é que os incêndios saem de controle. A ong faz campanha para que a
prefeitura de Ipojuca contrate agentes de fiscalização, brigadas de incêndio e adote
medidas de prevenção. Mas não tem tido sucesso. Por isso, decidiu levar a cobrança
para as redes sociais, direcionada principalmente à prefeitura e ao Ministério Público
do estado de Pernambuco. “Não dá para aceitar a inoperância das instituições diante
deste crime ambiental”, avalia Daniel Galvão. A atual prefeita de Ipojuca,
Célia
Sales (PTB), que foi reeleita, pertence a um clã político local.
Neste ano, os incêndios começaram em setembro e, desde então, já queimaram
cartões postais como o Morro do Baobá e o Coqueiral de Maracaípe, uma das
pouquíssimas áreas ainda protegidas na região. Aliás, foi a ameaça de extinção
do Coqueiral que levou à criação da ong. Em 2006, a área foi vendida para um grupo
empresarial português. O negócio não se concretizou
graças à mobilização da população.
Outro caso famoso em Porto de Galinhas foi o projeto de construção do complexo t
urístico Arena Porto, da empresa Luan Promoções e Eventos, que tem como um dos
sócios o cantor Wesley Safadão. O objetivo era construir, numa área de 15 hectares,
um centro de convenções e casa de shows, com capacidade para 12 mil pessoas e
estacionamento com três mil vagas. O problema é que a obra seria feita em área de
proteção ambiental, configurando clara ilegalidade. Uma área de manguezal foi
desmatada e aterrada. A terraplanagem e a pavimentação com brita já estavam em
andamento quando a justiça embargou a obra, a pedido da agência de proteção
ambiental do estado.
Os problemas não param por aí. Os resorts e complexos turísticos acabam privatizando
faixas das praias ao construir muros e gramados que destroem restingas e dunas.
A ong ressalta que essa faixa do litoral pernambucano é área de desova de tartarugas
marinhas ameaçadas de extinção, o que seria motivo para fiscalização e proteção
redobrada. Os manguezais e restingas do litoral brasileiro estão no alvo do ministro
do meio ambiente, Ricardo Salles. Por meio de uma resolução do Conama
(Conselho Nacional do Meio Ambiente), ele revogou a proteção aos dois ecossistemas,
mas a
decisão foi suspensa pela ministra Rosa Weber, do STF.
Manguezais e restingas são fundamentais para o equilíbrio ambiental.
Os manguezais são berçários de peixes, crustáceos, moluscos e muitas outras espécies.
Também formam uma barreira natural contra a erosão e armazenam carbono,
contribuindo para amenizar o efeito-estufa. A restinga é o local procurado pelas
tartarugas para a postura de ovos e também ajuda
a conter a erosão nas praias.
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