CLÁUDIO MARQUES
Em 2018, os moradores do Santo Antônio
foram agitados com a notícia de que uma obra de grandes proporções teria lugar
no bairro. Em meio a muitos questionamentos, a Conder, órgão do estado
responsável pelas obras, organizou uma série de reuniões amplamente divulgadas.
Os responsáveis pela Conder deixaram claro que seja de suma importância que
todas as dúvidas fossem sanadas.
A comunidade compareceu e os primeiros
encontros foram desastrosos. Cada morador tinha uma ideia do que deveria ser
feito. Algo que nos irritou, a todos, foi compreender que apenas uma das ruas
seria beneficiada. A Conder logo compreendeu o equívoco e refez o planejamento
estendendo trabalho de de saneamento, energia e iluminação a praticamente todos
os logradouros.
Mais de um ano, dezenas de reuniões e,
aos poucos, com muita paciência, chegou-se a um acordo do que era realmente
importante fazer. Cada morador passou a nutrir pleno entendimento de cada etapa
que seria realizada.
Foi lançado edital e percebemos que
nenhuma outra construtora seria melhor que a Pejota para realizar a obra.
Nos meses que antecederam o início das
obras, a Conder espalhou murais explicativos no Largo do Santo Antônio e na
Cruz do Pascoal.
Em fevereiro de 2020, as obras tiveram
início diante de um planejamento equilibrado. Cada etapa, em cada trecho
específico, teria início e fim evitando, assim, que os moradores sofressem os
efeitos do trabalho por muito tempo. Uma vala, por exemplo, jamais ficaria mais
de cinco dias aberta. Com isso, doenças arbovirais (Zika, Dengue…) seriam
evitadas.
Mas, quis o destino que a pandemia
(Covid-19) se espalhasse pelo mundo. Em marco, tivemos o lockdown.
Imediatamente, a Conder organizou uma
reunião virtual com os moradores. Decidimos juntos que as obras, mal iniciadas,
seriam interrompidas, pois havia uma real preocupação com a vida dos operários
e com as dos moradores. Vale lembrar que no Santo Antonio é um bairro de idosos
e crianças, que teriam muita dificuldade em conviver com areia (sol), lama
(chuva) e um barulho ensurdecedor das máquinas e, ainda por cima, em
isolamento. A obra é importante, mas a vida é muito maior.
O trecho iniciado foi fechado, então.
Todos resolveram esperar.
Em agosto, de comum acordo, as obras
foram retomadas. Em novas reuniões virtuais, a Conder pediu a aprovação da
comunidade quanto ao novo cronograma. As obras seriam intensificadas, teríamos
mais trabalhadores na rua, mas em dezembro de 2020 tudo deveria estar
finalizado. Havia especial atenção com os operários, todos devidamente preparados
para o trabalho em plena pandemia. Não se via um trabalhador sem máscara na
rua. O distanciamento entre eles sempre foi obedecido. Uma orientação do mais
alto nível. Incrível!
É preciso salientar o trabalho minucioso da Conder quanto ao reaproveitamento dos materiais antigos e centenários encontrados no bairro. Todo o meio-fio, por exemplo, foi aproveitado. Pedras da década de 30 e 40. Não houve desperdício, enorme quantia foi economizada. Os moradores se tornaram fiscais de todo o trabalho, pois conhecíamos bem toda a programação.
Vale dizer que quase não houve
conflito, diante de tão exemplar preparação.
O comércio praticamente não sofreu
perdas com a obra, pois as etapas, previamente conhecidas por todos, foram
respeitadas. Os moradores tiveram de lidar com pouca poeira, pois toda a
condução por parte da Pejota se mostrou muito ordeira. Digamos que foi um
canteiro limpo e organizado, sem excessos.
Não posso deixar de destacar o concurso
promovido pela Conder entre os artistas locais para o desenho que tomou as
calçadas do bairro. Calçamento de pedras portuguesas, linda e originalmente
desenhado. Um toque genuíno e especial em pleno Centro Histórico da cidade.
O atraso das obras ocorreu, mas foram
apenas poucos dias. A inauguração vai se suceder nos próximos dias. Não haverá
festa, claro. Se houvesse, por certo não haveria queixa, vaia, tomate ou ovo
podre jogado nas autoridades………………….
OBS: aos desavisados, se trata de uma
ficção. A obra interminável, sem qualquer planejamento ou conversa com a
comunidade, se concentra em uma única rua privilegiada do bairro. Não há nem
qualquer tentativa de respeito à democracia. Obra suja, feia, mal acabada,
desrespeitosa, que deixou muitos doentes. Uma vergonha.
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