quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

ARQUITETURA CONTEMPORÁNEA DA BAHIA

POR NIVALDO ANDRADE




Analisar a arquitetura contemporânea da Bahia não é tarefa simples por diversas razões. A primeira é a presença expressiva, nas cidades brasileiras em geral e, em especial, nas metrópoles do porte de Salvador, de áreas de ocupação informal, nas quais predomina a autoconstrução – isto é, edificações erguidas, muitas vezes de forma precária, sem a participação de profissionais legalmente habilitados para o exercício da arquitetura e do urbanismo.1 Alguns dados demonstram que de 30% a 45% das cidades baianas, pelo menos, são resultantes de processos de ocupação informais.2 Apesar de instrumentos legais como a Lei Federal nº 11.888, de 24 de dezembro de 2008, determinarem que o Estado deve assegurar às famílias de baixa renda assistência técnica pública e gratuita para o projeto e a construção de habitação de interesse social, sua aplicação no país ainda é incipiente e restrita a experiências pontuais. De modo geral, o acesso à arquitetura e ao urbanismo segue sendo restrito, na Bahia e no Brasil, a uma parcela da população.

A segunda dificuldade é que a qualidade da arquitetura produzida formalmente na Bahia e em Salvador na atualidade vem sendo objeto de críticas diversas, inclusive por parte dos próprios arquitetos locais. Fernando Peixoto observa que “Salvador tem personalidade, mas hoje a arquitetura da capital baiana paulistou. [...] Como pode uma cidade com essa luminosidade ter prédios todo envidraçados? Não é nada sustentável” (apud VITA, 2012). Neilton Dorea, por sua vez, afirma que, em Salvador atualmente, “há uma arquitetura dependente” e que “a maioria [dos profissionais locais] é desenhador de uma vontade empresarial” (apud FUNKE, 2009, p. 25). Essas afirmações ganham ainda mais peso se considerarmos que Peixoto e Dorea estão entre os mais reconhecidos e influentes arquitetos baianos das últimas décadas.3

Analisar a arquitetura contemporânea produzida na Bahia tampouco é tarefa que possa ser realizada sem que quem se proponha a fazê-lo contamine sua análise, desde o primeiro momento - aquele da seleção das obras a serem analisadas - com seus valores e preferências, ou seja, com sua subjetividade. Entretanto, visando estabelecer critérios minimamente objetivos, optamos por abordar neste texto aquelas obras que tenham obtido algum reconhecimento nacional ou internacional, ao serem publicadas em livros dedicados à arquitetura contemporânea brasileira ou em periódicos especializados, ao serem selecionadas para participar de exposições e bienais de arquitetura no país e no exterior ou ao serem classificadas em concursos e premiações da área.


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