sábado, 12 de dezembro de 2020

VERGONHA: NOSSA CULTURA

 MAM-BA está nas mãos dos funcionários, 

que reclamam do descaso do poder público 

com o patrimônio


No último dia 4 de dezembro, o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) completou um ano à deriva. Foi nessa data a publicação, no Diário Oficial do Estado, da exoneração, a pedido, da última diretora do espaço, a historiadora Tereza Lino, que ficou apenas nove meses no cargo.

Em fevereiro deste ano, o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), órgão ao qual estão atrelados os museus do estado, chegou a nomear o funcionário de carreira do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Hermano Queiroz, para o cargo.

Mas a indicação, divulgada em primeira mão, dois dias antes do anúncio oficial, pelo Correio, durou pouco. Dois dias depois, Queiroz desistiu. Desde então, fez-se silêncio dentro dos muros do museu.

“Depois da exoneração da diretora, ninguém veio aqui nos dar um norte de como ficaria o museu até a nomeação de um novo diretor. Mesmo depois da nomeação do diretor que não chegou a assumir, ninguém do IPAC nos procurou. Éramos informados pela imprensa e tem sido assim até hoje”, conta um funcionário do museu que não quis se identificar.

Segundo o servidor público, os primeiros meses sem comando foram os mais difíceis. “Não sabíamos como prosseguir nossa rotina de trabalho, não tinha ninguém aqui para nos orientar, até a assessora da diretoria que ficou aqui alguns dias depois da saída da diretora, que era a quem recorríamos para resolver questões importantes, foi também exonerada”.

Outro servidor do museu, que também conversou com a reportagem sob a condição do anonimato, afirma que assim tem sido desde dezembro passado. “Não temos um interlocutor, nenhum diálogo, nenhum esclarecimento ou comunicado. Ficamos aqui, cada um cuidando da sua área, totalmente ignorados pelo IPAC que é a quem estamos subordinados”, diz.

De acordo com o funcionário, a situação é crítica. “Ficamos aqui tentando segurar o leme para o barco não afundar”. Nos últimos tempos, segundo ele, o chefe do gabinete do IPAC, Ackerman Leal, começou a ir ao museu.

“Ele vinha aqui, ficava uma, duas horas no máximo e depois ia embora sem conversar com a equipe. Agora, estão se aproveitando da pandemia, já que os museus estão fechados ao público, e tá todo com a cabeça em outro lugar, para empurrar a situação com a barriga”.

Com o museu fechado, os funcionários trabalham em regime de escala. “Não vem todo mundo de uma vez. A gente faz escala por área, mas dentro do possível, estamos cumprindo nossa função de proteger o acervo e o equipamento”, diz.

Enquanto o museu segue sem comando, a comunidade artística critica o que chama de descaso com o museu. Para o artista visual e professor de artes, Almandrade, o MAM não precisa apenas de um diretor para ocupar o cargo vago, mas de alguém capaz de reinserir o espaço no cenário internacional das artes visuais.

Não estamos falando de um museu qualquer, estamos falando de um equipamento de reconhecimento e relevância internacional, não só pela importância do seu rico acervo, que inclui obras valiosíssimas de artistas como Tarsila do Amaral, Cândido Portinari, dentre outros, mas também pelo seu patrimônio arquitetônico que tem assinatura de Lina Bo Bardi e que atrai estudiosos, pesquisadores, um público qualificado que vem de várias partes do mundo”, diz o artista, que considera inadmissível que o espaço esteja sem comando.

Outro crítico da ausência de gestão é o artista visual Bel Borba. “A gente não pode prescindir de um espaço como o Museu de Arte Moderna da Bahia, deixá-lo acéfalo, sem qualquer programação!”, critica.

O artista visual Zivé Giúdice, que esteve à frente da direção do museu, também comenta a atual situação do MAM. “A ausência de direção revela o descaso desses dirigentes com o que é o mais importante dos espaços de arte da Bahia”.

Procurada, a diretoria do IPAC, por meio de sua coordenação de comunicação, se limitou a responder: “estamos trabalhando para a nomeação da nova diretoria do MAM. Em breve anunciaremos”. E o barco segue à deriva carregando um patrimônio de valor incalculável.

Relembrando:
O Mam foi reaberto em julho de 2019, após seis anos de uma reforma, ainda não totalmente concluída, que custou 15 milhões de reais. Agora, estão sendo recuperados o pier e o restaurante, numa obra conduzida pela Secretaria Estadual de Turismo, cujo valor total é de pouco mais de 3,8 milhões, com término previsto para março de 2021. O parque das esculturas continua fechado e com as obras em estado de deterioração. O mesmo acontece com uma das mais importantes áreas do museu, a Sala Rubem Valentim, que permanece fechada com as obras abrigadas na galeria 1.

Ronaldo Jacobina




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