A história da calçada portuguesa e dos calceteiros em Lisboa
É seguro afirmar que já todos pisámos a nossa amada – e por tantos odiada – calçada portuguesa, certo? Vamos descobrir as suas origens!
Foi no século XV que surgiram os primeiros pavimentos calcetados em Portugal e no mundo, em lugares como Brasil, Cabo Verde, Timor, entre outros.
A explicação para o surgimento, cremos que hoje em dia podemos considerá-la como arte, é muito simples e tinha apenas a ver com prática e conveniência.
Como os navios partiam sempre vazios para os seus destinos, no sentido de regressarem ao país carregados de bens e mercadorias, necessitavam de aumentar a sua carga para garantir a sua estabilidade de navegação, o que em gíria marítima se chama de lastro. Ora, a solução foi carregar estas embarcações com pedra portuguesa.
Uma vez nos países de destino, foram os jesuítas e os militares que tiveram a ideia de as aplicar nas vias por onde passavam. Este foi o primeiro passo daquilo a que, só no século XIX, se viria a chamar de calçada portuguesa, desta vez em solo português.
O revestimento de passeios, praças, pracetas e até a utilização destas pedras calcárias, claras e escuras, em obras de arte, colocadas de forma a criar desenhos, padrões, e muitas vezes de forma desordenada, são hoje uma das imagens de marca do nosso país.
Lisboa, ano de 1842
Lisboa, como capital do país, sempre foi uma das cidades, dentro e fora de Portugal, mais abonadas com este tipo de pavimentos. São inúmeros os locais na cidade onde podes apreciar esta arte, muitos deles com alto detalhe, outros apenas como forma de manter o que já existia, e que nem sempre respeitava as linhas e padrões de excelência dos grandes mestres calceteiros.
Os primeiros calceteiros conhecidos foram um grupo de presidiários, na altura chamados de “grilhetas”, que em 1842 criaram a primeira calçada de calcário dentro do Castelo de São Jorge, que na altura servia de prisão.
Para espanto de todos, o desenho desencontrado e ziguezagueante agradou e rapidamente foram disponibilizadas verbas ao Governador de Armas do castelo, Eusébio Furtado, para que os seus presidiários pavimentassem a Praça do Rossio, na altura com uma extensão de 8.712m2.
A obra de grande envergadura, conhecida como Mar Largo, só terminou em 1848, com desenhos a prestar homenagem aos Descobrimentos portugueses, com motivos tão díspares como caravelas, rosas-dos-ventos, conchas, peixes, estrelas e, claro, as mais conhecidas ondas do mar, entre outros, que hoje em dia podemos ver um pouco por todo o mundo: Brasil (Copacabana é o maior exemplo), Macau, Angola, Moçambique, Índia ou até, mais recentemente, Espanha e Estados Unidos da América.
Os calceteiros, uma profissão em risco de desaparecer
Os calceteiros, que de picareta na mão colocam pedra sobre pedra até formarem os desenhos que hoje admiramos, são os verdadeiros mestres de uma arte que é uma das referências da nossa portugalidade.
E esta é uma profissão em risco de desaparecer. São muito poucos aqueles que ainda se dedicam a este tipo de trabalhos de forma exclusiva, que fazem assentar na terra cada uma das pedras que no final darão lugar a algo quase sempre majestoso.
Em tempos foi uma profissão com muita reputação, chegando a empregar mais de 400 calceteiros. Foi até criada uma escola na cidade de Lisboa para formação nesta área.
Hoje, a maior homenagem a esta “espécie de artesanato” pode ser vista na Praça dos Restauradores desde 2017, tendo sido inaugurada na Rua da Vitória, em 2006.
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