Como Bernard Attal estudou cinema nos EUA, ele foi até lá, em busca de depoimentos que pudessem enriquecer os que ele havia colhido com grandes estudiosos da escravidão, da violência brasileira (enfim, do racismo estrutural, essa marca terrível de nossa história). O país de Obama vivia comoção pela morte de um jovem afro-americano em St Louis. A soma das vozes brasileiras e estadunidenses dá ao filme uma rica camada reflexiva.
Outro ponto alto do documentário (enxutos 78 minutos): a fotografia de Matheus Rocha – que integrou o Grupo Caixote SP – sempre elaborada, reflexiva, nunca em busca de imagens chocantes. O assassinado – Geovanne – deixou avós, pai e esposa (no fim veremos que deixou uma filhinha, mas o filme não utiliza a criança em busca de emoções fáceis). A cabeça do jovem foi cortada, a tatuagem que trazia o nome do pai foi queimada para dificultar o reconhecimento…
Enfim, um acúmulo de barbaridades apavorantes, vindo do aparelho do Estado (a polícia armada e paga para defender os cidadãos). O filme não esconde que Geovanne tinha passagens pela polícia, por alguns furtos. Mas coloca sua ênfase no ponto devido: o brutal assassinato de um jovem negro, interceptado em sua moto, quando foi cercado por três policiais (a sequência foi registrada por câmera de segurança de rua soteropolitana).
Os fardados tudo fizeram para dar fim ao corpo. Praticaram a degola. Homens pagos pelo Estado – repito – para garantir a segurança da população recorrendo aos procedimentos mais bárbaros da história da humanidade. Assistam ao filme no streaming, pois vale a pena.
Uma obra madura, que foge do apelo fácil e aposta na reflexão.
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