Em 2001 o Talibã destruiu as maiores estátuas de Buda do mundo, no Afeganistão. Não foi uma ação isolada. A partir dali inúmeras estátuas, artefatos e sítios arqueológicos viraram alvos dos extremistas. Em 2015 invadiram Mossul, no Iraque, e destruíram não só estátuas milenares, mas também cerca de 8.000 livros e manuscritos raros. O mundo civilizado assistiu, aterrorizado e atônito, estes atos de extremismo religioso.
Hoje, vi imagens do presidente brasileiro chegando no Ceará e provocando aglomerações. Em um discurso, voltou a criticar o isolamento e o uso de máscaras, ele mesmo sem usar uma, como sempre faz. Ao ver imagens de apoiadores aglomerados ao redor dele, também sem usar máscaras, me lembrei do recente almoço numa churrascaria onde ele mandou os jornalistas enfiarem latas de leite condensado no rabo, e foi aplaudido por pessoas que riram ao ouvir tal frase.
O bolsonarismo deixou de ser uma vertente política que prometia moralizar o país, combater a corrupção e acabar com a "velha política". Virou um movimento extremista que transpôs os limites da política e do bom senso. O líder e seus seguidores atacam a democracia e suas instituições, promovem discursos de ódio, adotam a grosseria e a truculência como padrões aceitáveis de comportamento. Exaltam a ditadura, a tortura não é considerada inaceitável, e montam esquemas estruturados de disseminação de fake news financiados tanto com recursos públicos quanto privados, oriundos de empresas que também patrocinam manifestações anti-democráticas. O Brasil vê, à frente de sua gestão federal, não um partido com programas, plataforma, projetos e políticas públicas que atendam aos anseios da população. Temos um político sem partido, sem competências e sem escrúpulos, que não sabe o que é administrar. Ele manda, ele "tem a caneta", como costuma dizer. Quando lhe falta sustentação política, ele compra apoio. Vem militarizando todas as áreas do governo, em detrimento da eficiência. Lançou o país em crises que se sobrepõem umas às outras. Crise política, econômica, ambiental, diplomática e a maior de todas: crise na gestão da saúde pública durante uma pandemia de efeitos devastadores.
O bolsonarismo vai se consolidando como a versão brasileira do estado islâmico. Extremista, violento, destruidor, militarizado, desumano e irracional. Com todo o respeito aos demais países e suas culturas, não somos o Iraque, não somos o Afeganistão. E, infelizmente, não estamos sendo um Brasil do qual possamos nos orgulhar.
MÁRCIO CARNEIRO
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