UM PRESENTE DE ANIVERSÁRIO

 

Meu amigo Dimitri Ganzelevitch fez aniversário...

Ele, lá na Bahia, comemorando, e eu, aqui no Rio, chorando as dores do mundo, diante de tanta notícia triste, trágica, terrível. É difícil, para mim, pensar em comemorar depois de ler o jornal ou de ouvir e ver o noticiário da TV.

Mas, um sopro de felicidade me fez pensar em Dimitri, na alegria de tê-lo na minha constelação de amigos!

Conheci Dimitri há pouquíssimo tempo: fevereiro de 2020. Fiquei encantada com aquele senhorzinho sentado à frente, na primeira fila, da palestra que fiz na Republica AF, sob os auspícios de Aninha Franco e do Grupo de Estudos Interdisciplinares da Raridade Documental - GEIRD, sobre a “Coleção Inferno”. O foco foi o tesouro pornográfico da Biblioteca Nacional – um manancial sobre a vida privada, entre quatro paredes ou em outros cantos, dependendo dos fetiches e das fantasias sexuais humanas, ao longo de séculos. Lembro que ele sorria, enquanto eu falava, curtindo à beça ouvir a senhorinha, que sou, falar sobre sacanagem com tanta solenidade!

Não sabíamos, à época, que a tragédia da Covid tiraria quase dois anos de vida presencial de nossa história.

Pois bem, é claro que aproveitei a oportunidade e não deixei Salvador sem ver os livros infernais colecionados por Dimitri (2), além de testemunhos artísticos em manuscritos, fotografias, pinturas, esculturas, pisos, móveis e uma miríade de objetos,

incluindo brinquedos, como as bonecas de pano, modeladas a partir de mulheres negras escravizadas no Brasil, provavelmente, para brinquedo de suas filhas – sim, isso existe! (3/detalhe).

Lembro do percurso que eu e as Bibliotecárias Graças Nunes Cantalino e Ana Lucia Albano cumprimos, deliciosamente, na Casa-museu Solar Santo Antônio, de Dimitri.

Fiquei impactada com o fundamento de Preservação e de Formação e Desenvolvimento de Coleções oferecido pela frase em latim, esculpida em madeira, que encima as estantes de livros: “Bibliotheca ista ornat libros sed libri non ornant Bibliothecam” / A biblioteca, provavelmente, é adornada por livros, mas, estes não adornam a biblioteca (acho que é esta a tradução da frase, atribuída a um Bibliotecário do século XVIII quando visitou a biblioteca da Abadia de São Pedro e São Paulo, no norte da Floresta Negra, Alemanha referindo-se à grandeza do acervo em face do reduzido espaço para guarda) – em tudo, memórias que precisam ser preservadas!

Meu amigo Dimitri Ganzelevith fez aniversário. Foi ontem, quando eu estava triste e um sopro de felicidade me fez pensar nele e lembrar, com alegria, que Dimitri é meu amigo! Feliz aniversário, meu querido, e longa vida!

Ana Virginia Pinheiro