- Que saco, Arnaldo! Quantas vezes já falei que não vai dar zebra?
- Lucinha, você se lembra quando alugamos aquela casa perto de Trancoso? Reserva pela Internet. Tudo certinho e tal. E quando chegamos, cadê a casa?
- Quem foi mesmo que disse que o site era confiável?
- E parecia. Ainda hoje, fico com a hipótese de abdução. Levaram tudo. Casa, quintal, piscina.
- Não sei porque não te levaram junto.
- Querida, mas falando sério. Estou com medo de dar algo errado. Coloquei nossas economias de dois anos aí nesse passeio. E só porque você quer conhecer Pari...
- Arnaldo, se você não parar com essa ladainha, vai ter problema comigo. Aliás, você tomou seu remédio hoje?
- Só à noite, amor.
- Antecipe-se. Não faz mal adiantar. Melhor que faz efeito logo e diminui a ansiedade.
- Querida, mas deixando remédio de lado, ouvi dizer que está quase estourando uma greve de aeroviários e controladores de tráfego aéreo na Europa. Vai ter uma assembleia semana que vem. Nossa viagem acontece em 15 dias!
- Mais alguma mandinga?
- E pro lado de lá, paralisação de trens e metrôs.
- Arnaldo, andaremos à pé. E para Versalhes, pegaremos táxi.
- Versalhes nem vai abrir. Já avisaram que estará fechado no nosso período de viagem.
- Arnaldo? Louvre, d'Orsay, Giverny, Disney, Eiffel.
- Amor, mas veja lá... E se...
- Filho duma mãe, como é mesmo o nome daquele amigo seu?
- Qual?
- Aquele cara otimista, interessante, inteligente e que deixa tudo acontecer naturalmente.
- O Eliseu?
- Isso! Eliseu. Você tem o WhatsApp dele?
- Tenho, amor. Mas, o que você quer? Quer tentar ver se ele me transforma em um cara otimista, interessante, inteligente e que deixa tudo acontecer naturalmente?
- Antes fosse isso, querido. Vou convidá-lo para viajar para Paris.
- Conosco? Pra quê?
- Quem disse "conosco" aqui?
(Leonardo Craveiro - Varanda de mim
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