Paulo Ormindo de Azevedo
Para explicar o assunto tenho que dar um volta grande. Em 1925 foi criada a primeira “linha de montagem”, em que os operários ficavam parados e os produtos de uma fábrica corriam por uma esteira e eles tinham que fazer algumas operações. Seu inventor, Henry Ford, revolucionou a indústria. Inspirado em Taylor, outro defensor da produtividade industrial, o operário não devia saber o que estava produzindo, apenas se concentrar na sua porca.
Bastava acelerar a esteira e os operários se lascavam para aumentar a produção. Para produzir em massa era preciso consumir em massa. Assim, Ford criou a “sociedade de consumo”. Seu sistema de produção bombou, foi adotado na Europa, na União Soviética, na Itália fascista e Henry Ford foi condecorado por Hitler.
Charles Chaplin produziu uma critica hilária e feroz ao fordismo no filme Tempos Modernos, de 1936. Toda vez que Carlito se coçava atrasava os colegas e era esmurrado. Não podia ver mulher na rua com botões nas roupas que ele não quisesse apertar como de fossem porcas. Todas as doenças ocupacionais, como o LER, o DORT e síndrome de burnout já estavam ali descritas.
O fordismo foi abandonado com os robôs, a reengenharia das empresas e o 5G, que acabaram com o emprego formal. Mas a esteira rolante continua vigente na inspeção final dos produtos industriais. Apesar de exaustivamente certificadas, os militares querem fazer novas inspeções e modificações nas 500 mil urnas eletrônicas. Para explicar melhor o que isto representa vou exemplificar com um caso que ocorreu, há muitos anos, na Europa.
Na Itália de Il Duce, o guia, um jovem casal esperava seu primeiro filho e queria comprar um berço de bebê com rodinhas, mas não encontravam nas lojas. Se lembraram que um primo do marido trabalhava numa fábrica de carrinhos de bebê e pediram a ele para comprar um carrinho na fabrica como se fosse para ele. O primo explicou que também eles operários tinham que se inscrever nas lojas para comprarem e receber o carinho depois de um ano.
Como eles tinham pressa, perguntaram se ele não podia conseguir com os colegas as peças, escondê-las no macacão, sair da fábrica e armar o carrinho em casa. O primo achou perigoso, mas ficou de estudar o caso. Os meses se passavam e nada do casal ver o berço. No oitavo mês de gravidez da esposa, angustiados com a demora, colocaram o primo contra a parede e perguntaram se ele conseguia ou não armar o berço, pois o bebê já estava por nascer e eles não sabiam onde iam colocá-lo para dormir e passear no parque, como recomendava o pediatra. O primo se desculpou muito e disse:
- Já consegui todas as peças, as quatro rodas, os tubos do chassi, as tabuas do lastro e os punhos dos braços de empurrar, mas não consigo armar o berço, só sai fuzil e metralhadora.
SSA: A Tarde de 24/07/2022
Ironia à parte, à realidade brasileira, mas vivemos, atualmente, próximo do fuzil e da metralhadora. VOCÊ É A FAVOR?
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