quarta-feira, 20 de julho de 2022

UM MUSEU PARA O SOLAR

 


A restauradora Zeila Maria Machado publicou no Facebook umas fotos denunciando a decadência do setecentista Solar Bandeira, na Ladeira da Soledade.

O que me chamou logo a atenção foram os elegantes e alegres azulejos do princípio do século XIX, parecidos com aqueles que decoravam o jardim de nossa casa em Lisboa. A memória sempre condicionando nossas escolhas...

O Inventário do Ipac (1975) sob a direção de Paulo Ormindo de Azevedo, fala em “Edifício de notável mérito arquitetônico”. Numa avaliação aproximada, a planta parece ter uns bons 500m2 no térreo assim como no primeiro piso e talvez uns 300m2 no segundo. O que o torna excepcionalmente grande. O jardim, semelhante “aos encontrados em vilas toscanas renascentistas” é também amplo, com vista privilegiada sobre a baía e decorado com embrechados mouriscos.

O Solar Bandeira está ameaçado de iminente arruinamento em consequência direta do abandono pelas autoridades.


Já falei, nestas mesmas páginas, da necessidade de um Museu Nacional do Azulejo para o Brasil. Este imóvel, em um bairro esquecido - a não ser durante o desfile do 2 de julho - seria a moldura perfeita para a proposta. 

A Bahia possui o maior acervo de azulejaria portuguesa fora de Portugal. Não tenho conhecimento de exemplares do século XVI, mas do XVII a nossos dias, nosso patrimônio é de uma riqueza invejável. Perdemos os azulejos da igreja de Nossa Senhora da Encarnação em Passé (Candeias). A capela de Nossa Senhora da Pena, no Paraguaçu, está prestes a cair. O raro painel de Lisboa antes do terremoto, na Ordem Terceira de São Francisco, está perigosamente corroído... a lista é longa.

O museu não se limitaria ao acervo baiano. Documentaria também, por meio de bancos de dados, os tesouros de Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Maranhão etc. 

Sem esquecer os painéis mais recentes como no saguão da Companhia de Navegação Baiana e outros do Comércio. Hansen-Bahia, Carybé etc. Um espaço precisa reverenciar a memória do Udo Knoff, cuja luta pioneira pela azulejaria merece maior destaque que nos exíguos espaços do Pelourinho.

Minha referência, já adivinharam, é o Museu do Azulejo de Lisboa, inaugurado em 1980 e único do gênero no mundo. Nem na Holanda, nem na Itália, na Espanha, Marrocos, Irã ou Turquia existe algo parecido. E mais: é uma instituição em constante evolução. A cada visita, descubro uma novidade.

Toda a Ladeira da Soledade, onde são várias as fachadas cobertas de azulejos do século XIX, se beneficiaria desta inciativa – aquilo que podemos chamar de “Efeito Guggenheim/Bilbao” -  sem contar com a evidente consequência de mais uma motivação de peso para o turismo cultural. 


Grandes empresas e bancos não deveriam hesitar em patrocinar tão significativo projeto.



Dimitri Ganzelevitch

A Tarde, sábado 23 de julho 2022

Um comentário:

  1. Ciberurbe sou eu, Lourenço Mueller, Dimitri. Eu não advinhei a sua referencia, não sou tão culto, mas foi excelente ideia, meus parabens. E idem pelo que disse sobre o efeito do Museu de Frank Gehry em Bilbao, foi isso mesmo, mudou a cidade e um pouco do mundo...e o que me diz do Forte do Mar, hem? Que segundo Mario Mendonça não tem suas bases submersas completamente consolidadas e sujeitas a erosão permanente? Esse governador de bosta, está quase no nome, como também a qualificação de ruim, esse cara não vale nada, nada, nada...

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