Acabo de voltar de Minas Gerais, onde passei um São João sem fogueiras e fogos para não ameaçar os monumentos, mas com farta cozinha típica. Belô tem um Museu de Artes e Ofícios que homenageia o trabalho manual, com a coleção notável de ferramentas e máquinas pré-industriais do empresário Flávio Gutierrez, um dos fundadores da Andrade Gutierrez, organizado por sua filha Ângela Gutierrez, minha ex-colega no Conselho do IPHAN. Almoçamos no Mercado Central, que me fez lembrar o grande bazar de Istambul, pela variedade de carnes, frutas, especiarias, queijos, artesanato e pássaros exóticos.
Esses dois centros têm em comum a cultura popular. Lina Bardi queria criar no Unhão um grande museu-popular- escola, mas foi defenestrada pelos “brancos da Bahia” que só queriam uma galeria de arte para valorizar e vender suas obras e a denunciaram aos militares de 64.
Outro empresário mineiro, Bernardo de Mello Paz, transformou sua fazenda de solo ferroso num dos maiores museus a céu aberto do mundo. Originalmente o sítio pertencia ao minerador inglês Sir Tinothy, que passou a ser conhecido no local como (S)inhô Tin, e sua fazenda como Inhotim. O novo proprietário começou a preparar o parque botânico e de artes na década de 1980, mas só abriu ao público em 2006, com enorme sucesso nacional e internacional. Espantam os gigantescos e escultóricos bancos esculpidos em troncos de árvores caídas. O parque é mantido pela Vale, Itau e Cemig, a estatal de energia que patrocina os principais programas culturais mineiros.
Ouro Preto, a joia cenográfica barroca brasileira, é sempre uma festa. Estava gelada neste inicio de inverno, mas crepitava com a 17ª Mostra de Cinema de OP, com seminários e exibição de filmes ao ar livre. Assistimos um documentário sobre Belchior, em que o público cantava, dançava e aplaudia freneticamente, como os espetáculos de música, teatro e dança em praças públicas de Salvador na era Edgar Santos. Ouro Preto não ficou parada no tempo. Por todo lado se vêm lojas e oficinas de produção de joias de ouro e pedra preciosas e esculturas e utensílios de pedra sabão
Revisitamos o Museu da Inconfidência com sua bela exposição sobre a infraestrutura de mineração do ouro pelos escravos e a arte de seus pintores e escultores libertos, incluindo algumas belíssimas imagens do Aleijadinho com seus torsos em movimento e expressivos olhos amendoados. Conhecemos o novo Museu dos Oratórios, doado à cidade por Ângela Gutierrez, e o antigo “curral das comédias”. Imperdível é também a visita às profundas minas de ouro e a comida do Passo Pizza Jazz.
Fomos ainda a Mariana ver seu rico museu de arte sacra da catedral. Infelizmente outras igrejas e a elegante Casa de Câmara e Cadeia estavam em obras. O Estado de Minas sabe preservar e valorizar sua cultura e receber bem os turistas. Minas trabalha em silencio!
SSA: A Tarde, 10/07/2022
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