Para quem?
De tanto andar por aí, acabei conhecendo - pelo menos desde a Praça Castro Alves até a Ladeira do Baluarte - cada pedra da calçada, cada beco, cada placa de rua, cada poste. Criei laços de amizade com vizinhos e comerciantes. Observo. Converso. Fotografo. Registro. Tenho meus hábitos. Para andar do lado da sombra, para comprar pão, tomar o cafezinho quotidiano (apesar da tensão alta). E ouço. Um monte de queixas no que se refere aos costumeiros abusos dos governantes e burocracias mil.
No que se refere à vigilância sanitária, então, nem se fala!
Mas vamos falar, sim! Chegam sempre aos pares, meio-sorriso, com bloco de papel
impresso e caneta na mão. Pedem para ver a cozinha, a geladeira, a dispensa.
Sobem. Descem. Se abaixam, abrem portas, passam o dedo na estante, abrem o
tampo da lixeira, do vaso sanitário. Aquele espaço entre dois ladrilhos?... Os
sacos de plástico... Tem o quê dentro? A data de validade do azeite doce, do açúcar
e do sal? E este pedaço de queijo, sem referência? Tem quartos? Quantos cabides
no armário? Examinam as toalhas, o teto, o sabonete...
Não é maravilhoso? Estamos num mundo asséptico, higienizado,
perfumado que encantará turistas e autóctones! Mas a mínima data vencida, um
minúsculo grão de poeira, lá vem advertência e ameaça de multa. Todos os que
têm restaurantes e pousadas – em especial quando pertencem a estrangeiros –
resignados com a frequência das visitas dos impassíveis fiscais, se queixam da surreal
severidade. Para nada serve lembrar que a 10 metros da entrada do
estabelecimento o lixo não foi recolhido há três dias, que outros comerciantes
depositam sobras de comida a partir do meio-dia para a alegria da ratazana, que
o pivete e o flanelinha mijam logo aí na esquina, que padarias, quitandas e
botecos são isentos de fiscalização e continuam imundos, entregues ás baratas,
ratos e outros insetos... Fiscalização? Só para quem pode pagar multa polpuda!
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