O grupo parou debaixo de
minha janela. Abro. Meia dúzia de homens, na faixa dos cinqüenta. Não conheço a
canção. Deve falar de amor. Na noite úmida e quente, noto as camisetas listradas.
Com certeza saÍram de algum sarau. A sanfona continua seu monólogo nostálgico
que o violão reforça. Duas moças de cabelo solto dançam sem muita atenção,
quase indiferentes. Seus longos vestidos de ouro, rosa e azul, voam lentamente
com a brisa. Do outro lado da rua, as luzes apagaram. Ninguém se debruçou a
janela para ver o grupo passar. Já estarão dormindo.
Interrompem a música, conversam.
Alguém ri. Recomeçam a andar, a tocar, a cantar. Viram a esquina. Por um
momento seguirei seus passos pelo som da sanfona.
No meu bairro ainda existem
momentos mágicos e singelos...
Dimitri Ganzelevitch
Salvador, 2010.
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