Mudança no Iphan ocorreu após queixa de construtores de Salvador, afirma ex-presidente
Após o vídeo da reunião ministerial do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) demonstrar suas insatisfações com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) (veja aqui), a ex-presidente do órgão, Kátia Bogéa, disse que foi demitida após queixas do empresário Luciano Hang e do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). Para ela, o presidente mente ao dizer que quer pessoas técnicas no governo, pois busca alguém que aceite passar por cima da lei.
No caso do filho de Bolsonaro, Kátia revelou à coluna Painel, do jornal Folha de S. Paulo, que ele levou ao governo federal uma queixa de construtores de Salvador. Em uma reunião com membros do setor, o senador colheu reclamações sobre uma portaria baixada pelo Iphan no final de novembro, limitando e criando regras para novas construções na Barra.
Já o dono das lojas Havan teria interferido após uma de suas obras parar no Sul do país. Segundo ela, a paralisação se deu porque a empresa contratada por Hang declarou ao Iphan que encontrou um achado arqueológico. "Ele criou esse escarcéu porque nem a mais simples das obrigações eles querem fazer. Estávamos ali para cumprir a Constituição. O que queriam é que não observássemos a lei”, ressaltou, acrescentando que "é a mesma coisa do Geddel [Vieira Lima, ministro baiano no governo Temer].
No caso de Geddel, o então ministro da Cultura, Marcelo Calero, denunciou que estava sendo pressionado pelo colega para interferir no Iphan e garantir a construção de um edifício em uma área tombada em Salvador (veja aqui). Isso foi um escândalo na época e culminou na demissão de Geddel e uma condenação por improbidade administrativa.
Quanto à situação atual, Kátia destaca que antes da sua demissão ser anunciada, houve uma sucessão de trocas de cargos por conta da queixa de Hang. O primeiro a perder o posto foi um diretor técnico. Em seguida, coordenadores das superintendências de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, entre outras, começaram a dar lugar a pessoas sem formação.
Atualmente, o Iphan é comandado por uma amiga da família Bolsonaro, Larissa Dutra. "E vem com esse discurso mentiroso de que teria que ter perfil técnico para ocupar cargos no governo. Tudo mentira!", rebateu Kátia.
Criado em 1937, o instituto é responsável pela preservação e promoção dos bens culturais do país e está subordinado à Secretaria Especial da Cultura. (Atualizada às 8h55)
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