sexta-feira, 1 de maio de 2020

O PREÇO DA DESIGUALDADE

Drauzio Varella prevê 'tragédia nacional' por coronavírus: 'Brasil vai pagar o preço da desigualdade'


Drauzio Varella

Prestes a completar 77 anos em maio, o médico cancerologista Drauzio Varella diz que se arrepende de já ter sido otimista a respeito do novo coronavírus. Na época em que começaram a surgir as primeiras informações sobre o vírus na China, em dezembro do ano passado, ele diz que, como muitos, considerou que se tratava de uma doença de baixa letalidade, como pareciam indicar os dados disponíveis. "Eu participei desse otimismo e me recrimino por isso hoje."
Considerado parte do grupo de risco para a covid-19 pela faixa etária, o médico, escritor e comunicador tem vivido uma rotina profissional intensa nas últimas semanas, mesmo sem sair de casa. Concilia as reuniões matinais diárias do recém-criado grupo "Todos pela Saúde", que ele integra como sete técnicos que trabalham para direcionar uma doação de R$ 1 bilhão feita pelo Itaú Unibanco ao combate do coronavírus, com as demandas que recebe como médico, tirando dúvidas e enviando orientações a respeito da doença.
Vencer o avanço da pandemia no Brasil, pondera, exigirá estratégias e obstáculos diferentes do que foi observado em países da Europa e da Ásia. A principal peculiaridade brasileira é a imensa desigualdade social, que impõe condições de vidas muito distintas para ricos e pobres, limitando o acesso de grande parte da população às práticas que previnem o contágio, como lavar as mãos, comprar álcool gel e praticar o isolamento social.
Há no país 35 milhões de brasileiros sem acesso à rede de água potável, segundo dados do Instituto Trata Brasil de 2017. Em 2018, antes da crise do coronavírus, chegou a 13,5 milhões o número de brasileiros vivendo abaixo da linha da extrema pobreza, com menos de R$ 145 por mês.
É esse contexto que, na previsão de Varella, levará o país sem dúvida a uma "tragédia nacional" durante a pandemia.

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