Pierre Subleyras, “A albarda”, 1732. Óleo sobre tela: 30.5 x 24.5 cm. Museu Hermitage, São Petersburgo.
Jean de La Fontaine, o grande fabulista do século XVII, escreveu a história de um pintor ciumento que suspeita de que a esposa o está traindo.
Para evitar a infidelidade, o artista pinta um burro no púbis da mulher como selo. Mas quando ele viaja, aparece o amante da mulher, que coincidentemente também é pintor.
Como a tinta do púbis demora a secar, a imagem do burro se desvanece durante a relação sexual. O pintor, julgando-se capaz de copiar o estilo do corno, repinta a imagem do burro no púbis da mulher, e é precisamente isso que Subleyras nos mostra: os amantes tentando reconstruir a imagem do marido ciumento, como se nada houvera acontecido.
O que não se vê na pintura é que o pintor, talvez por arrogância, estupidez ou excesso de criatividade, ao pintar o novo burro, esquece o modelo original e desenha para ele uma albarda. Então, quando o marido voltar, ele descobrirá o engano.
Moral? Será que copiar outro artista é muito fácil de ser descoberto...? O excesso de criatividade pode ser nefasto...? O que é um burro que tem chifres, senão um burro que os pinta...? Ou talvez “A culpa do burro não deve ser jogada na sela” (Dom Quixote II, 66)?
Seja como for, Subleyras pinta esta tela no estilo rococó libertino, e não pretende nos ensinar exatamente a moral, mas sim criar uma pintura erótica que também tenha algo a ver com a profissão de pintor.
Helena Lacerda
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