quinta-feira, 23 de março de 2023

MAUS VENTOS



         Amigo me fala que sente maus ventos rondando na atmosfera política. Primeiro me diz que leu texto de jornalista atribuindo a Lula a culpa da destruição amazônica no último mês. Respondo-lhe que esse tipo de jornalista a gente já conhece muito e que fevereiro ainda é herança dos quatro anos anteriores. Mesmo assim ele continua inquieto, pois tem gente mais sensível, mais frágil – sobretudo após o longo pesadelo que se iniciou com o impeachment de Dilma e a entronização do Temer, o que acabou dando, com o lavajatismo e outras peripécias de Moro, na fatídica eleição presidencial de 2018.

            O amigo continua inconformado, diz estranhar muito que o Senado tenha nomeado senadores da área dos Yanomami para tratar do caso dos garimpeiros que há muito vêm, com total apoio do governo federal, destruindo a floresta amazônica e corrompendo, estuprando, envenenando e matando índios que estavam abandonados pelos que teriam o dever de protegê-los. E me pergunta: acho eu que esses senadores não estão ligados aos garimpeiros? Acrescentando: é ouro, ouro, ouro – e com ele não se brinca, acho que tem muita gente grande envolvida, inclusive políticos.

            Repondo-lhe com uma pergunta, pois quem não pensa a mesma coisa? Afinal, não foi de outra maneira que a humanidade agiu durante toda a sua história – que sempre acumulou mentiras, traições, crimes hediondos e que tais. E, claro, criando deuses para justificá-los, porque é o homem que cria os deuses à sua imagem e semelhança. Então ele suspira e fala da Ilha de Boipeba, que estava à beira da destruição e que se espera seja poupada por recente determinação do Ministério Público Federal, que enquadrou os que estavam dando autorização para ocupação da área, pertencente à União. Eu respondi que não fiquei surpreso, já que o governo é outro, com outra bem diferente mentalidade. A palavra de ordem agora é proteger o meio ambiente e suas populações, especialmente os índios, o que é uma obrigação constitucional.

            Ele continua: como as pessoas se atrevem a conceder tal autorização, se a ilha é protegida pela União? A primeira decisão do MPF já era de 1919 e o Inema resolveu ignorá-la. O estado está acima da União? Vai ver tem gente sonhando que tudo ainda continua como antes, com o governo abrindo as porteiras para que todo o gado (como queria um ministro arrepiante do governo anterior) da estupidez passasse bem à vontade e, destruindo riquezas do meio ambiente, acabasse destruindo de vez o planeta Terra. Ou será que esses ricaços destruidores acham que é só enfiar a mão no bolso e ir viver em Marte?

Agora ele sorri, embora timidamente. Uma trégua nos maus ventos? Talvez não, mas, mesmo sem copos ou taças nas mãos, brindamos à esperança.

 RUY ESPINHEIRA FILHO

A TARDE. 23/03/2023

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