quarta-feira, 1 de março de 2023

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Em viagem com avião da FAB, ministro vai a leilões de cavalos e recebe diárias

Juscelino Filho saiu de Brasília com destino a São Paulo para uma viagem que justificou como "urgente"

Juscelino Filho
Juscelino Filho
Foto: José Cruz/Agência Brasil

ministro das Comunicações, Juscelino Filho, utilizou avião da Força Aérea Brasileira (FAB) e recebeu diárias para participar de leilões de cavalos de raça que chegam a valer mais de R$ 1 milhão.

No fim de tarde de uma quinta-feira, 26 de janeiro, Juscelino saiu de Brasília com destino a São Paulo para uma viagem que justificou como "urgente". Seus compromissos oficiais somaram duas horas e meia. Da tarde de sexta até o retorno na segunda-feira, dia 30, o ministro - que é apaixonado por cavalos - se dedicou a agenda inteiramente privada: assessorou compradores de animais, promoveu um dos seus, recebeu o "Oscar" dos criadores e inaugurou praça em homenagem a um cavalo de seu sócio.

Logo após desembarcar na capital paulista, Juscelino foi à sede da operadora Claro para uma "visita institucional", onde permaneceu por uma hora. No dia seguinte, esteve por 30 minutos no escritório da Telebrás e encerrou os encontros oficiais após uma visita de uma hora à representação da Anatel, cuja sede fica em Brasília.

A partir daí, o ministro ficou livre para dedicar seu tempo aos eventos com cavalos no roteiro custeado com verba pública. A justificativa do deslocamento foi feita num sistema interno da pasta: "viagem urgente".

Decreto presidencial prevê que as aeronaves da FAB devem ser solicitadas obedecendo a uma ordem de prioridade. Primeiro, em casos de emergências médicas. Segundo, quando há razões de segurança. Depois, viagens a serviço. As diárias são pagas quando há necessidade de cobertura de despesas extraordinárias com o trabalho. A agenda do ministro não informa sua presença em nenhum dos eventos envolvendo animais.

Procurado, Juscelino não explicou por que usou avião da FAB na segunda-feira, quando seu compromisso oficial se encerrou ao meio dia de sexta-feira. Nem o recebimento de quatro diárias e meia no valor de R$ 3 mil quando sua agenda de trabalho justificaria uma.

Embora as atribuições de sua pasta não guardem relação direta com animais, o ministro das Comunicações tem usado o cargo para consolidar seu prestígio no mundo dos cavalos. Durante o tour, no dia 27 de janeiro, Juscelino foi um dos homenageados na festa do "Oscar do Quarto de Milha", na capital paulista, anunciada desde novembro. Ao receber a homenagem, o ministro afirmou que pretende alavancar o mercado de equinos.

"Na função de ministro de Estado, agora no Poder Executivo, mas também como deputado reeleito para o terceiro mandato, tenham certeza, cada um de vocês, apaixonados pelo cavalo Quarto de Milha, que terão sempre o meu compromisso, enquanto estiver com uma função pública, de poder defender cada vez mais o cavalo e os esportes equestres no nosso país", disse ele.

Na programação de sábado, 25, e domingo, 26, Juscelino passou por dois leilões em Boituva, a 122 quilômetros de São Paulo. Os eventos foram realizados em um rancho do empresário Jonatas Dantas - seu amigo e sócio em cavalos - e movimentaram R$ 7,5 milhões.

Os locutores não economizaram citações à principal celebridade política ali presente. "Você já 'lançou' num leilão e teve a assessoria de um ministro? O comprador 'tá' com assessoria do ministro", garantiu um leiloeiro, fazendo propaganda do negócio. "O comprador do lote 8 foi com a assessoria do nosso ministro Juscelino Rezende (sobrenome do titular das Comunicações). Vai para Serraria, no Estado da Paraíba", informou outro, no remate de um dos animais.

Um dos cavalos de Juscelino foi exibido no palco. O locutor descreveu em detalhes as características de Gunner Roxo AD para impulsionar a venda da mãe do cavalo, a égua Palooza, principal animal negociado naquele fim de semana. Os direitos sobre 50% da fêmea foram arrematados por R$ 1 milhão. A apresentação de Gunner, por sua vez, também serviu para a propaganda de um leilão futuro, quando o cavalo criado por Juscelino, em sociedade com Jonatas Dantas, será posto à venda.

Em junho de 2019, o ministro pagou R$ 500 mil por metade do potro. "Quando falaram a pessoa (que queria comprar), eu falei: 'Não posso dizer, não'", lembrou Dantas durante o leilão. "Essa pessoa, hoje ministro, (é) uma pessoa humana, um cara gestor. E eu abri mão. Foi vendida a metade por alta soma. Em breve vamos estar lançando ele. A gente está fazendo um projeto inovador. É bem provável que deve ser nos Lençóis Maranhenses, com show da Simone", completou o sócio de Juscelino. Dantas é vice-presidente da Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Quarto de Milha (ABQM) e conselheiro da Associação Brasileira de Vaquejada.

Praça

Além da viagem com avião da FAB para participar de leilão de cavalos, o dinheiro público também pagou despesas de Juscelino em outro evento sem qualquer relação com o Ministério das Comunicações. No sábado, 28 de janeiro, o ministro reinaugurou uma praça em Boituva, revitalizada e agora batizada com o nome do cavalo Roxão.

A reforma da "Praça do Roxão" custou R$ 195 mil, dinheiro da prefeitura. Dantas, o empresário que é sócio do ministro e foi proprietário do cavalo, doou materiais elétricos e uma escultura de metal do animal que fez história nas competições de vaquejada.

Ao discursar, Juscelino se apresentou como integrante da "equipe do presidente da República" e prometeu internet grátis naquele espaço. "Se a gente está vivendo esse momento, muito foi fruto do cavalo Roxão, que tem proporcionado bons momentos na vida de muitos aqui", disse ele. A participação do ministro na reinauguração da praça também não apareceu em sua agenda oficial nem nas redes sociais.

Consultoria

Um dia depois de voltar para Brasília do tour em São Paulo, Juscelino recebeu no ministério seu consultor de cavalos. Junior Machado acompanhou Iggor Oliveira (PSD), prefeito de Poço Verde (SE).

O encontro foi registrado no Instagram do consultor. "Tratei com prioridade o avanço tecnológico da internet 5G e TV Digital", escreveu Machado, embora não conste qualquer atividade exercida por ele que tenha relação com a pasta.

Em um leilão organizado por Juscelino, em julho do ano passado, Machado teceu vários elogios ao político e mostrou ali a influência que tem sobre decisões do ministro nos negócios com cavalos. "Sempre que vai comprar, pede orientação. 'Júnior, vamos nessa? Não vamos? 'Tá' caro?, 'Tá' barato?'. Quantas vezes eu liguei, você não estava nem assistindo (ao leilão). 'Deputado, compre esse lote'. Você foi e comprou", revelou ele.

Machado disse ao Estadão que "o ministro conhece muito mais de cavalos" do que ele e que a agenda no ministério foi para "pedir que desse atenção ao Estado de Sergipe sobre essa questão de 5G".


A Urihi Associação Yanomami, que tem como presidente Júnior Hekurari Yanomami — chefe do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY) — pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o senador presidente da Comissão criada para acompanhar a situação do povo Yanomami, Chico Rodrigues (PSB-RR), seja impedido de entrar sozinho na Terra Indígena Yanomami.

O pedido foi protocolado nessa sexta-feira (24), após o senador ter ido ao território indígena na segunda-feira (20) de carnaval sem comunicação prévia à Funai ou os indígenas. Agora, a associação aguarda a designação do ministro relator do caso.

No documento, a associação que representa mais de 150 comunidades Yanomami, afirmou que o senador desembarcou no território "causando elevado desconforto e aumentando ainda mais a crise na localidade".


"Observa-se que a sua atuação isolada, tendenciosa na apropriação do discurso, fere flagrantemente o princípio da colegialidade e da proporcionalidade de composição, eis que a criação da Comissão (colegiado), é justamente para proporcionar que os verdadeiros atingidos sejam ouvidos por todos seus integrantes, sobretudo que tenham afinidade com a verdadeira crise humanitária e possam, ao fim, externar conclusões imparciais à questão", cita trecho do pedido.

A ida de Chico Rodrigues ao território ocorreu mesmo após instituições indígenas se posicionarem contrárias à participação dele e de demais parlamentares de Roraima nos trabalhos da comissão. Chico foi em um helicóptero da Força Aérea Brasileira (FAB), visitou o pelotão do Exército e o posto de Surucucu, onde indígenas doentes são atendidos.

Senador Chico Rodrigues no polo de saúde em Surucucu, na Terra Indígena Yanomami — Foto: Júnior Hekurari Yanomami/Divulgação

Senador Chico Rodrigues no polo de saúde em Surucucu, na Terra Indígena Yanomami — Foto: Júnior Hekurari Yanomami/Divulgação

Segundo a Urihi, a ida dele à região foi conflituosa, pois os Yanomami sabem que Chico "é um contumaz defensor dos garimpeiros que tanto mal fizeram ao povo yanomami e, naquela ocasião, sem os demais parlamentares, o povo diretamente atingindo não tinham a quem falar".

"Essa ação isolada, portanto, foi um estímulo extremamente negativo, tanto que diversas entidades e os próprios membros da CTEYanomami desaprovaram a ação", completou a associação.

Em entrevista à GloboNews, a vice presidente da Comissão do Senado, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), disse que a ida de Chico Rodrigues à Terra Yanomami não tem legitimidade. Isso porque, segundo ela, o senador não teve o aval dos demais membros do grupo de trabalho e não apresentou nenhum plano de atividades prévias.

A Comissão Temporária sobre a Situação dos Yanomami foi instalada no dia 15 de fevereiro e é composto por Chico, os senadores Dr. Hiran (PP) e Mecias de Jesus (Republicanos), ambos de Roraima, Elizane Gama (PSD), do Maranhão e Humberto Costa (PT) de Pernambuco.

SAIBA MAIS:

Na quinta-feira (23), a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara informou ao g1 que o senador Chico Rodrigues não comunicou



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