A culpa pela obsessiva ocupação das praias deve ser atribuída à duquesa de Berry, nora do rei Carlos V da França. Em 1824 a alteza entrou nas águas frias de Dieppe para tratar de sua saúde. Toda a aristocracia francesa foi atrás. Mais tarde, a burguesia e finalmente o povão descobriram as alegrias das ondas salgadas da Normandia. E do resto do mundo.
Dois séculos depois, o litoral baiano por inteiro está sendo ameaçado
pela mais desenfreada especulação imobiliária. Depois da Praia do Forte que
hoje parece um shopping center, Porto-Seguro, Morro de São Paulo, Itacaré,
Trancoso, Imbassaí vão perdendo sua magia original para se transformar em
cenários nem sempre harmoniosos onde acorrem multidões a participar de desfiles
de vaidade e consumo de inutilidades.
Boipeba é um de nossos últimos paraísos. Há mais de vinte anos que ando
pelas praias desertas, dormindo em pousadas à beira do mar e almoçando daquilo
que os pescadores depositam na areia.
A empresa Mangaba Cultivo de Coco conseguiu convencer o governador da
Bahia, os burocratas do Inema e o prefeito de Cairú que a supressão de um bom
pedaço do pouco que ainda resta de Mata Atlântica em plena Área de Proteção
Ambiental seria bom, seria ótimo para todos. Todos, quem? Para José Roberto
Marinho, que ganha mais de um milhão de reais por mês na Globo, Armínio Fraga
“Minhas propostas me colocam à esquerda para valer” e com certeza para outros,
escondidos nos bastidores do poder.
Assim que, alegre-se, o arquipélago terá mais um aeroporto privativo, um
cais para 150 iates e um campo de golfe. Quantas centenas de litros de água do
lençol freático da ilha cada um destes 18 buraquinhos vai engolir diariamente?
“Ah! Mas vamos dar emprego! ” Sim. Arrasando – perdão: modernizando -
não só uma aldeia ou duas, mas transformando pescadores, marisqueiras e lavradores em
porteiros, faxineiras, seguranças, lavadores de pratos e de piscinas,
varredores de pista de aeroporto, destruindo toda uma estrutura social com sua
história, suas referências culturais, seus hábitos e suas crenças.
A empresa tem meios de sedução. Muitos. Oferecendo um frízer a um
modesto boteco, um posto de televisão para um casal de velhinhos, um carro de
mão para o pedreiro, uma nova vela para o barco. Compra barato, igual a
candidato a vereador que oferece um saco de cimento ou mil blocos a um líder
comunitário. Terá um bom retorno.
Comprando-os com ajuda da sociedade consciente.
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